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NOTA DE REPÚDIO AO ASSASSINATO DE JOÃO ALBERTO SILVEIRA FREITAS

 

MANIFESTO

O Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae vem a público manifestar o seu repúdio à extrema violência - notadamente fruto de um racismo estrutural - com que se desencadeou o assassinato ocorrido em 19/11/2020 de João Alberto Silveira Freitas.

Vem ainda, através deste, afirmar o seu apoio ao manifesto elaborado pelo GTACME - Grupo de Trabalho A cor do mal estar - deste Departamento.
 

Conselho de Direção [2019-2020]

 

 O RACISMO É PROBLEMA DE TODOS NÓS

 

Em 19/11/2020, enquanto discutíamos na segurança de nossas casas-gabinetes-consultórios a implantação de Cotas raciais no Instituto Sedes Sapientiae, mais um corpo negro é brutalmente abatido.

 

A política genocida deste país empreende cotidianamente o extermínio  da  população negra, protagonizando episódios de extrema violência.  A cena do assassinato veiculada repetidamente  sustenta um gozo perverso daqueles que filmam, pensam e dizem "alguma ele deve ter aprontado", pois corpos negros são sempre suspeitos e devem ser eliminados e não incluídos. 

 

O Sr. João Batista Rodrigues Freitas, pai  de João Alberto Silveira Freitas, que provavelmente  nunca ouviu falar em necropolítica desabafa: "achei que ia buscar meu filho na delegacia e recebi um corpo do IML".

 

Amanhecemos no 20 de novembro com um recado: Escutem, negros! Não é dia de comemorar, é dia para velar mais um dos seus! Chorem!

 

Alguns já se apressam em levantar a "ficha" do morto, como uma forma de uma vez mais desqualificá-lo, justificar o ato.

 

Mais um número na estatística, mais notas de repúdio e sigamos, pois se a cada 23 minutos um negro é  assassinado, quantos mais já morrem do dia 19/11/2020 até agora?

 

Tal realidade inconcebível não pode mais se manter. Precisamos dar um basta! Um basta na ideia de que no Brasil não existe racismo, ideia perversa e que sustenta a recusa da terrível herança nos deixada por mais de 300 anos de escravidão.

 

Nós, componentes do Grupo de Trabalho "A Cor do Mal Estar", o GTACME, gostaríamos de fazer muito mais do que escrever esse manifesto, mas no momento é o que temos de possibilidade imediata para deixar registrada a nossa profunda indignação com a ausência de humanidade e o descumprimento da prática óbvia de cidadania que qualquer país necessita para merecer ser considerado uma nação.

 

Recriminamos e condenamos não só a barbárie de um assassinato, mas principalmente a concordância do Estado com essa barbárie. Ao negar o racismo, e consequentemente negar ter havido um crime racista, o Estado se autoriza o exercício de um governo arbitrário, desabilita a lei máxima do país, atingindo dessa forma toda a população. Frisamos: TODA A POPULAÇÃO!!

 

O RACISMO NÃO É UM PROBLEMA DA POPULAÇÃO NEGRA!!

 

Neste sentido, mais uma vez convocamos a população branca à reflexão sobre o enorme prejuízo que ela vem sofrendo ao ser conivente com a manutenção de todos esses anos de mentalidade escravocrata.

 

Que entendamos de uma vez por todas, que a única chance de construirmos uma nação onde todos se vivenciem cidadãos de fato, é assumindo uma postura antirracista com engajamento em ações diárias de combate e desconstrução do racismo estrutural.

 

Escutem os negros:

 

Poema do Erivelton Amaro [i]

Sou feito de luta

Forjado no fogo

Eu sou resistência

Não jogo seu jogo

Livre das correntes

Livre das chibatas

E chegou a hora de damos as cartas

Eu sei que isto te assusta não é?

Minha força

Meus ancestrais

Meu pé no chão

A minha fé

Pra você entender

Pra onde vou

De onde vim

Lembre do Dr. Luther King

"I have a dream"

Meus Heróis são todos assim

Meus heróis vêm das ruas

Meus heróis vêm das favelas

Meus heróis são Zumbi, Malcolm X, Mandela e Luísa Mahin


Grupo A Cor do Mal-Estar, do Departamento de Psicanálise

do Instituto Sedes Sapientiae
 

[i] Membro do Grupo A Cor do Mal-Estar
 

   
Departamento de Psicanálise - Sedes Sapientiae
Rua Ministro Godoi, 1484 - 05015-900 - Perdizes - São Paulo - Tel:(11) 3866-2753
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