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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    03 Dezembro de 2007  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

Tramas e Dramas na Problemática Alimentar


NATALIA GOLA

No último mês de setembro tivemos, no Departamento de Psicanálise, um excelente evento preparado e organizado pelo Projeto de Investigação e Intervenção na Clínica da Anorexia e da Bulimia (1) (Clínica Psicológica e Departamento de Psicanálise), que há sete anos vem se aprofundando no estudo dessas patologias tão antigas e, ao mesmo tempo, tão contemporâneas.

Ao longo de dois dias, fomos envolvidos por uma programação variada, que começou com a instigante conferência proferida pelo psicanalista Mario Pablo Fuks -"Construindo a Complexidade" - e seguiu com mesas de discussão que se propunham a abordar o tema dos transtornos alimentares, articulando-os com o campo da cultura e com a vida cotidiana. Com esta finalidade, discorreram sobre corpo, moda, cultura, consumo, tatuagens, mídia, arte, feminino - temas estes intimamente relacionados às questões subjacentes às problemáticas alimentares. Entretanto, o que singularizou o evento foi o caráter transdisciplinar dos trabalhos apresentados. As mesas contaram com profissionais de diferentes áreas - psicanálise, psiquiatria, sociologia, arte, dança, fotojornalismo - que, através das suas leituras e abordagens peculiares, provocaram, de forma inovadora, rearranjos nas formas de se pensar a clínica da anorexia e da bulimia.

Essa proposta surgiu a partir do desejo dos participantes do Projeto em promover o diálogo com outras áreas do saber. O objetivo de tecer uma trama que pudesse acolher e sustentar as inquietações, questões, reflexões e produções decorrentes dessa experiência clínica que, por vezes, é tão árida, foi plenamente atingido. O grande público presente, formado por membros e alunos do Departamento, convidados e outros profissionais interessados no assunto, participou com entusiasmo das discussões, demonstrando o quanto o tema é instigante e desafiador.

O Projeto AB trouxe para o Departamento e para a comunidade psicanalítica uma possibilidade de diálogo nessa clínica tão complexa que opera nas fronteiras entre o somático e o psíquico, entre o infantil e o adulto, entre a cultura e o indivíduo.

(1) O texto de apresentação do Projeto no evento está publicado na seqüência .


APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE ANOREXIA E BULIMIA NO
EVENTO TRAMAS E DRAMAS NA PROBLEMÁTICA ALIMENTAR

ALESSANDRA SAPOZNIK

Boa noite a todos,

É uma satisfação estar aqui hoje, entre amigos, mestres, parceiros e colegas.

Uma das motivações para que esse evento acontecesse foi poder compartilhar, num âmbito mais amplo, um tanto das coisas que temos observado e pensado nesses anos de trabalho no Projeto de Investigação e Intervenção na Clínica da Anorexia e da Bulimia.

Então hoje à noite eu, como atual coordenadora do projeto, venho contar para vocês, de forma breve, um pouco da nossa história.

O projeto começou a ganhar forma em 1999, quando um grupo de alunos do Curso de Psicanálise do Departamento, que tinha recentemente começado a estudar o tema da anorexia e da bulimia, se juntou ao Mario Fuks e a Soraia Bento Gorgati.

Alguns de nós, como a Soraia e eu, já tínhamos um percurso nessa clínica das patologias alimentares.

Após um ano de grupo de estudos juntos, o desejo de pesquisar e de nos aproximar dessa clínica, a partir do referencial psicanalítico, se fez mais forte e decidimos escrever um Projeto para apresentar para a Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae.

O Projeto inicia então suas atividades na Clínica Psicológica do Sedes em 2000, com a proposta de oferecer atendimento psicanalítico individual e familiar para adolescentes e adultos que apresentassem problemáticas alimentares, tais como a anorexia e a bulimia, mas que não estivessem num momento agudo do patologia, ou seja, que já tivessem passado por um tratamento anterior e que desejassem se submeter a um atendimento que não tivesse um prazo determinado para terminar.

A equipe se formou com a presença de psicanalistas e psiquiatras, na sua grande maioria hoje membros do Departamento de Psicanálise.

O nosso grupo sempre trabalhou com uma nosografia psicanalítica e, portanto, nos interessava também atender pacientes que não preenchessem os critérios estabelecidos pelos manuais de psiquiatria, mas que apresentassem dificuldades relativas ao manejo da sua relação com a alimentação, com o corpo e com a própria imagem.

Com o tempo, e com a demanda, o nosso critério de não receber pacientes mais graves se modificou.

Para isso, o Projeto realizou parcerias com outras instituições, como o Proata/Unifesp e Instituto da Criança/USP, bem como com outros profissionais da saúde (nutricionistas, acompanhantes terapêuticos e terapeutas ocupacionais).

Aliás, essa é uma das características do nosso trabalho: montar uma rede, um projeto terapêutico para cada paciente que nos procura, levando em conta as particularidades de cada caso.

Paralelamente às atividades clínicas (atendimentos, discussões clínicas e supervisão individual e familiar), o campo da investigação e da pesquisa, que sempre foi foco do nosso interesse, desde a concepção do projeto, se desdobrou em um grupo de trabalho e pesquisa, denominado Patologias Alimentares e sua Inscrição Contemporânea.

Esse grupo constituiu-se como uma atividade independente das outras atividades do projeto e aberta a todos os membros e membros aspirantes do departamento.

Ao longo desses sete anos de trabalho, o nosso grupo tem tido como interlocutores outros grupos do Departamento, tais como o Grupo do Feminino no Imaginário Cultural Contemporâneo, o Curso de Psicopatologia Psicanalítica e Clínica Contemporânea, e o Espaço Inquietações da Clínica.
Produções coletivas e individuais de membros do Projeto renderam publicações em livros de dentro e de fora do Departamento, dentre as quais vale a pena destacar o capítulo sobre Transtornos Alimentares, escrito em conjunto.

A produção desse capítulo revelou-se um desafio, por fazer parte de um livro de Medicina Ambulatorial (FUKS, M.P., SAPOZNIK, A., GORGATI, S.B. et al. "Transtornos Alimentares" In: Lopes, A.C.; Ward, L.S.; Guariento, M.H. (editores-chefes). Medicina Ambulatorial. São Paulo: Atheneu, 2006, p. 181 -202), o que nos colocou a complexa tarefa de escrever sobre o tema, numa linguagem acessível aos médicos, porém sem abrir mão da compreensão psicanalítica.

Do ponto de vista de eventos, esse é o nosso primeiro evento aberto ao público.

Porém, num âmbito menor, recebemos para uma conferência a psicanalista argentina Silvia Fendrik, e num outro momento, a preciosa supervisão do psicanalista francês Philippe Jeammet.

Gostaria de fazer um agradecimento a algumas pessoas que fizeram parte de diferentes momentos do projeto: Cecy Himmelstein, Claudia Rosa Fulgencio, Denise Claudino, Issa Mercadante, Graça Baraldi e Sylvia Pupo Neto.

O outro agradecimento vai para a diretora-adjunta da Clínica Psicológica, Maria de Fátima Vicente, por acolher o Projeto na Clínica, tornando possível a continuidade do nosso trabalho.

E um agradecimento especial ao Conselho de Direção e a Claudia Paula Santos, articuladora da área de eventos do Departamento, por todo apoio que nos deram para a realização desse evento.

Gostaria de dizer que um dos fatos que me alegra muito ao poder estar aqui e apresentar o nosso projeto a vocês é o fato de que esse é um grupo que tem como característica um funcionamento mais horizontal, sem muitas hierarquias, e que isso torna o trabalho em equipe muito prazeroso.

E por fim, quero agradecer muito e apresentar aqueles que fazem esse projeto acontecer: Aline Gurfinkel, Ana Cecília Mesquita, Liliane Mendonça, Luciana Kopelman Thalemberg, Magdalena Ramos, Mario Fuks, Soraia Bento Gorgati e Susana Batalhão.

Muito obrigada e bom trabalho!!!

 




 
 
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