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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    04 Fevereiro de 2008  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

Em homenagem a Emilio Rodrigué


EQUIPE DO BOLETIM ONLINE


Aos 84 anos de idade, em Salvador, faleceu o psicanalista argentino Emilio Rodrigué. Colegas de diversas partes - argentinos, baianos, paulistanos, franceses - manifestaram pesar pela perda do mestre e escreveram homenagens que fizeram circular pela internet.

O Conselho de Direção do Departamento de Psicanálise informou o ocorrido em carta aos membros, sublinhando aspectos de sua biografia e participação em atividades:

Destacado psicanalista, escritor e historiador da psicanálise de renome internacional, fez contribuições fundamentais para seu desenvolvimento, tanto na Argentina como no Brasil, para onde emigrou em 1975 em função do agravamento da situação política em seu país de origem. Foi mestre de várias gerações de psicanalistas, tendo participação relevante na constituição do grupo Plataforma, que protagonizou a cisão da Associação Psicanalítica Argentina e a ruptura com a IPA. Já no Brasil, continuou sua produção psicanalítica, cultural e literária sendo fonte de apoio e estímulo para o enriquecimento da teoria e da prática na Bahia, onde morava, e em vários outros lugares para onde foi convidado. Entre nós, teve participação memorável em uma mesa redonda do ciclo O acontecimento estético na clínica psicanalítica.

Autor de vários livros relevantes sobre o processo psicanalítico, a psicoterapia de grupos, as comunidades terapêuticas, entre outros temas, incursionou na literatura com várias obras de ficção, culminando sua produção escrita em uma importante e reconhecida biografia de Freud, editada em outubro de 1995.

A dor provocada por sua ausência, sentida especialmente pelos que o conheceram de perto, apenas pode ser mitigada pela lembrança da força e da intensidade com que ele encarou a vida, assim como da criatividade, da inteligência e do humor que o caracterizaram.

O Boletín da Revista Topía (Cf. http://www.topia.com.ar/local-cgi/dada/mail.cgi/archive/boletintopia/20080222210855/) se despediu do colaborador com a transcrição do primeiro conto de seu último livro, La respuesta de Heráclito:

El octavo día

Nada en un principio.
En el primer día Dios hizo la luz y vio que era buena, dándole el nombre de Día.
En el segundo día separó el agua de la tierra seca.
En el tercer día Dios hizo el Sol, la Luna y las estrellas.
En el cuarto día Dios hizo la hierba verde y el árbol de fruto y vio que eran buenos.
En el quinto día Dios hizo a los reptiles grandes y pequeños, las ballenas y los otros mamíferos, los cefalópodos y los peces. También hizo las aves y los insectos.
En el sexto día Dios hizo al hombre.
En el séptimo día, habiendo completado su obra, descansó.
Y al día siguiente, ya descansado, Dios se fue.

Eduardo Pavlovsky fez multiplicar por e-mail e publicar na Página 12 o carinho e gratidão por todo o recebido (Cf. http://www.pagina12.com.ar/diario/contratapa/index-2008-02-22.html).

Amigos de várias gerações organizaram uma homenagem realizada na 3ª feira, dia 18 de março, no Salão Auditório da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, em que falaram seus companheiros Fernando Ulloa, Hernán Kesselman e Tato Pavlovsky.

Com a ajuda do pessoal da Revista Percurso foi possível localizar os textos de Rodrigué publicados em seus números 12 (O paciente das 100.000 horas), 27 (Transgressões criativas - Debate com Isaías Melsohn - Cf. http://www2. uol.com.br/ percurso/ main/pcs27/ 27Debate. htm) e 34 (Furacão freudiano - entrevista - Cf. http://www2. uol.com.br/ percurso/ main/pcs34/ 34Entrevista. htm).

Cristina Ocariz também colaborou conosco na localização do registro da conferência de encerramento proferida por Rodrigué no Colóquio Internacional Arquivos da Psicanálise, ocorrido em agosto de 2004 na PUC/SP: A biografia de Freud por um latino-americano (Cf. http://www.psicopatologiafundamental.org/?s=107&c=523)

Por fim recebemos a delicada e generosa homenagem escrita por Michel Plon, publicada a seguir em versão bilíngüe. Entendemos que ela dialoga de modo extraordinariamente sensível com o conto Spaghetti, que elegemos difundir, no idioma do autor, na seção Escritos de nosso Boletim.

É assim que também esperamos envolver o leitor interessado em conhecer o legado de Rodrigué, acessível ainda através da leitura das seguintes obras com edições (algumas esgotadas) em português:

Separações necessárias - Memórias. Companhia de Freud, 2006.
Sigmund Freud - Século da Psicanálise 1, 2 e 3. Escuta, 1995.
Gigante pela própria natureza. Escuta, 1991.
A lição de Ondina. Imago, 1983.
El antiyo-yo - Nova proposta amorosa. Imago, 1982.
O último laboratório. Imago

UN VIEUX JEUNE ANALYSTE
                                  
MICHEL PLON

 Une tendresse pleine de pudeur, un rien désabusée, une rigueur qui savait être allègre, une écoute aussi perspicace qu'audacieuse, ma tristesse à l'idée que je ne le reverrai plus ne peut éclipser la fierté d'avoir reçu de lui, d'Emilio, plus d'un témoignage d'amitié.
A Paris, lors de la publication de son Freud, un coup de téléphone dont j'entends encore la chaleur pour me remercier de l'article paru dans La Quinzaine littéraire, une soirée autour de lui à La Coupole après un débat, des retrouvailles sur sa plage, à Itapoã, puis encore une fois, la dernière, autour d'un spaghetti dans la chambre de sa résidence hôtelière à Salvador, la lecture, bouleversante, de Séparations nécessaires, un échange de mail pour la publication dans Essaim d'un article tout parfumé de son humour et puis un long silence, l'annonce de son décès en décembre, bien vite démenti  - merci Urania  -  un soulagement joyeux mais trop bref et puis la fin...
Un zest d'Argentin, un soupçon de Britannique, une large rasade de Bahianais, Emilio Rodrigué était à lui seul un cocktail que jamais aucun barman de par le monde ne pourra refaire. Il était le plus grand psychanalyste Sud Américain du siècle passé et il avait cette élégance suprême qui consistait, le sachant parfaitement, à n'en être pas dupe, à faire comme s'il ne l'avait pas su.  
              
 Paris 29 février 2008

UM VELHO JOVEM ANALISTA

Tradução de CRISTINA BARCZINSKI

Uma ternura cheia de pudor, um tanto desabusada, um rigor que sabia ser alegre, uma escuta tão perspicaz quanto audaciosa, minha tristeza diante da idéia de que não mais revê-lo não pode obscurecer o orgulho de ter recebido dele, de Emilio, mais que um testemunho de amizade.
Em Paris, quando da publicação de seu Freud, um telefonema do qual posso ainda ouvir o calor do agradecimento por meu artigo publicado em La Quinzaine littéraire, uma festa em sua homenagem depois de um debate, as expedições na sua praia, em Itapoã, depois ainda uma vez mais, a última, em torno de um spaghetti dentro de seu quarto no apart hotel em Salvador, a leitura, perturbadora, de Separações Necessárias, uma troca de e-mails sobre a publicação no Essaim de um artigo todo perfumado de seu humor e, após um longo silêncio, o anúncio de sua morte em dezembro, prontamente desmentido – obrigado Urania – um alegre consolo, embora breve, e depois o fim...   
Uma lasca de argentino, uma pitada de britânico, um copo cheio até a borda de baianidade, Emilio Rodrigué era, ele mesmo, um coquetel que jamais barman algum no mundo poderá reproduzir. Ele era o maior psicanalista sul-americano do século passado e tinha esta elegância suprema que consistia em – sabendo disto perfeitamente - não ignorar sua importância, mas fazer como se não soubesse dela.

Paris, 29 de fevereiro de 2008.

 




 
 
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