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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    05 Abril de 2008  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

Notas sobre a Jornada “Psicanálise hoje - caminhos da formação e da transmissão”


RUBIA DELORENZO

Como se dá, hoje, a transmissão da psicanálise numa cultura com sua ética e estética próprias, com seus modos próprios de sofrer e de tratar a dor?

Como pensar as questões levantadas em nosso campo de investigação - formação, transmissão, clínica - pela incidência, nas subjetividades, da força bruta dos ideais culturais?

Como sustentar o tempo da formação de analistas, o ritmo da transmissão, o valor da experiência e da narrativa em nosso ofício, na contramão do imediatismo contemporâneo?

Como fazer frente à falta de interioridade, à rapidez, ao imperativo de agir e de anestesiar a dor?

Essas foram algumas das temáticas discutidas na jornada interna Psicanálise Hoje - Caminhos da Formação e da Transmissão, do Departamento de Psicanálise do Sedes. No âmbito de muitas dessas discussões, encontramos um movimento de ressignificação da história, do histórico, movimento de resistência ao apagamento do tempo na atualidade. Tempo restaurado - na imagem evocada por Benjamim - que, para o analista, alude à transmissão como o encontro entre os marinheiros viajantes que trazem as novidades e os sedentários que contam o que aconteceu em sua ausência.

Na mesa sobre "As heranças na transmissão da psicanálise", foram abordadas as vicissitudes próprias à construção de um analista. O analista que se é, traz consigo a história do movimento psicanalítico. Nesta perspectiva, alguns trabalhos trataram do tema do recalcado e seu retorno na transmissão, da transmissão do negativo, dos conflitos pela herança, o violento e o traumático que seguem se atualizando nas instituições psicanalíticas, etc.

Ao lado desta discussão envolvendo as temáticas da filiação, da origem e da apropriação das marcas fundantes da transmissão, outros escritos, apresentados em outras mesas, trouxeram para o debate a importância do espaço coletivo na transmissão da psicanálise, a utopia de se pensar, sem tensões, os espaços institucionais e o imprescindível da grupalidade para a formação de um analista.

Em torno do tema "Lugares de reconhecimento e impasses da institucionalização", foi debatida a regulamentação da profissão, que institui lugares de poder alheios ao ofício. Por mais que a questão de poder esteja sempre presente, existem, na própria instituição, espaços coletivos de discussão. Se até mesmo a idéia de uma auto-regulação apresenta questões, não há por que - e esta parece ser a posição dominante no Departamento - legitimar a intervenção estatal, pois o que rege a psicanálise é uma ética que lhe é própria. A singularidade da formação em psicanálise, muitas vezes feita à margem das instituições - e nem por isso menos legítima - traz dificuldades às tentativas de formatação. Existem várias formas de inserção em grupos de pertinência, através das quais um sujeito possa se autorizar a ser analista.

Ainda outras questões, essenciais à tarefa de formar e transmitir, encontraram um espaço fértil de reflexão nas mesas que trabalharam os temas ligados ao lugar da clínica na formação, ao lugar da escrita na transmissão, à experiência da supervisão e às relações entre psicanálise e universidade.

Por fim, a metáfora alentadora da psicanálise como "reserva florestal", como um lugar de respiro, um abrigo para o sofrimento atual.




 
 
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