Tratar da questão do grupo no movimento analítico não é uma tarefa simples. Segundo René Kaës, o grupo representa a matriz fecunda e traumática da invenção da psicanálise. Apesar de muitos psicanalistas trabalharem com grupos, a reflexão sobre esta prática e sua teorização no âmbito da metapsicologia ocorreram historicamente às margens do movimento analítico, mundial e brasileiro.

Portanto, o apoio do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, que possibilitou a existência do grupo de estudos sobre o grupo, assim como apoiou a realização do "Colóquio sobre Grupos: a Experiência Clínica e a Psicanálise" realizado no dia 31 de Maio, caminha na contramão da tendência histórica do movimento analítico. Aponta para um sentido de vanguarda, de aceitação de que, mais do que uma prática, o grupo é um objeto de estudos legítimo da psicanálise. O conhecimento sobre o grupo pode tanto ser enriquecido pelos conhecimentos que a psicanálise desenvolve desde a sua fundação, como pode trazer novas perspectivas na compreensão do funcionamento mental.

Este encontro teve como objetivo tratar das possíveis articulações entre as diversas práticas de grupo desenvolvidas por psicanalistas com a metapsicologia. Para tanto organizamos quatro mesas, sendo a primeira com o objetivo de remontar a história dos grupos dentro do movimento psicanalítico; a segunda mesa ofereceu uma ilustração de como o grupo pode ser utilizado como um dispositivo clínico no campo da saúde mental; a terceira mesa apresentou o grupo como um instrumento de intervenção na organização do trabalho; e por fim, na quarta mesa, o grupo como uma ferramenta no consultório particular.

Na mesa inicial, foi feita uma apresentação preparada por Paulo Jeronymo e por mim, tratando do histórico da questão do grupo no movimento analítico mundial e brasileiro, a partir dos conceitos de continência e convergência institucional, que vêm sendo elaborados no grupo de estudos sobre grupo. Seguiu-se a apresentação do longo histórico de trabalhos sobre grupos no Departamento, como demonstram as experiências ilustradas por Maria Angela Santa Cruz.

A mesa seguinte apresentou o trabalho de Moisés da Silva Jr., Cristina Parada Franch e Rodrigo Blum, realizado pelo "Projetos Terapêuticos". Trabalho de grande alcance e profundidade, inovador do ponto de vista clínico, institucional, ético.

Na parte da tarde foi apresentado um trabalho realizado com uma equipe de enfermeiros da UNIFESP por Christiana Freire, Deivian Vargas e Cristiane Curi Abud, membros do grupo de estudos sobre grupo. O grupo foi apresentado sob o ponto de vista dos fenômenos grupais observados tanto no grupo de enfermeiros como na instituição. O trabalho foi analisado pela Profa. Maria Inês Assunção, do IPUSP, que, a partir da metapsicologia dos grupos desenvolvida por René Kaës, fez uma leitura dos fenômenos inconscientes que atravessavam os diversos níveis institucionais e grupais.

Por fim, o Dr. Odilon de Mello Franco Filho, analista didata da SBPSP, trouxe seu testemunho pessoal de que foi no contato com Madre Cristina que encontrou sua porta de entrada para a psicanálise. Falou do trabalho de Bion sobre grupos e trouxe sua experiência clínica utilizando este dispositivo no seu consultório.

O encontro foi projetado para uma sala com capacidade para 40 pessoas. No entanto acabou sendo realizado no auditório, com mais de 100 inscritos. Participaram professores, alunos, parceiros de outras instituições. Muitos saindo com um gostinho de "quando será o próximo?".

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(1) Fernando da Silveira é psicólogo, mestre em psicologia social pelo IPUSP e aluno do 2º ano do Curso de Psicanálise.