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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    08 Abril de 2009  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

León Ferrari dispõe imagem para capa do Guia do Departamento de Psicanálise.


SÍLVIA NOGUEIRA DE CARVALHO (1)


Foi em 1976, ano de fundação do Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae - então chamado Curso de Psicoterapia de Orientação Psicanalítica -, que León Ferrari exilou-se no Brasil, onde viveu pelos 8 anos seguintes com parte de sua família, retomou "inquietudes artísticas" e ratificou sua decisão de "tomar a arte como profissão". Consolidou amizades por aqui, ao trabalhar junto de diversos artistas, dentre os quais Regina Silveira e Julio Plaza, no Centro de Estudos e Artes Visuais Áster. Neste contexto, desenvolveu extensa produção, ao experimentar linguagens e suportes variados: xerox, arte postal, heliografias, microfichas, videotextos, livros de artista e gravuras. Museus, galerias de arte e residências paulistanas abrigam diversas de suas obras...

Nascido em Buenos Aires em 1920, León Ferrari formou-se engenheiro pela Universidade de Buenos Aires, e como tal chegou a colaborar com os projetos arquitetônicos de seu pai, nos cálculos de algumas das igrejas por ele projetadas. Autodidata, começou a desenhar durante a vida universitária, e iniciou sua carreira artística como escultor na Itália dos anos 1950. Da cerâmica e madeira, passou aos trabalhos em arame, numa exploração das relações do espaço com o vazio. Estendido ao papel, o desenho com arame retorcido gerou sua série de escrituras com letras e palavras deformadas, desenvolvida a partir de 1962. A partir daí, trabalhou com aquarela, papel cortado, colagem, garrafas de refrigerante...

A partir dos bombardeios no Vietnã, passou a produzir obras que problematizam a barbárie da civilização ocidental e cristã. Escreveu cartas e uma peça teatral, que estreou em outubro de 1968, em Londres, sob o título Listen Here Now. A News Concert for Four Voices and a Soft Drum. Na Argentina, apresentou o ensaio El arte de los significados e participou do manifesto coletivo Tucumán Arde, que dessacralizavam a impenetrável arte de elite. Seguiu desenvolvendo projetos de participação artística em protesto à repressão política, como na coletiva Malvenido Rockefeller (1969), na publicação Contrabienal (1971), ou em sua proposta El calendario de la Casa Rosada (1971), que foi recusada pelo júri do II Certamen Nacional de Experiencias Visuales, vinculado ao Salão Nacional, fato que motivou a organização do Contra-Salón, realizado na Sociedad Central de Arquitectos. Entre 1973 e 1976 participou do Fórum pelos Direitos Humanos e do Movimento Contra a Repressão e a Tortura.

Durante seu exílio em São Paulo, editou 4 álbuns contendo notícias recortadas da imprensa oficial argentina. Em 1984 editou outros 3 volumes, sob o título Nosotros no sabíamos, em referência à indiferença com que um setor da sociedade justificou seu absenteísmo durante os anos de ditadura. Em 1992, outros 4 volumes compuseram o acervo da exposição 500 años de represión, no Centro Cultural Recoleta.

Em 1979 passou a desenvolver várias séries de desenhos e colagens, nas quais introduziu imagens de letraset para compor efeitos de estranhamento no espaço social. Parte delasfoi publicada nos livros Homens (1984) e Imagens (1989).

A partir deste 2009, uma imagem Sem título, de 1983, passa a figurar na capa da primeira edição de nosso Guia do Departamento de Psicanálise: ondas de homenzinhos que se adensam numa direção comum, revoada de pássaros que traça novos movimentos.

Reafirmando a posição antielitista que sustenta, mais uma vez León Ferrari democratiza o acesso à sua obra: ao reconhecer a proposta do Sedes e do Departamento, acolheu imediatamente o pedido formulado pelo amigo Mario Fuks na visita a seu ateliê, sugeriu o modo de aproveitar a imagem da gravura na elaboração da capa e respondeu, um tempo depois, cheio de humor e simpatia, ao envio do projeto de capa: "Querido Mario, El dibujo ha quedado muy bien, mejor la reproducción en la tapa que el original. Un fuerte abrazo, Leon".

Aos 88 anos, León Ferrari tem participado de importantes mostras internacionais de arte contemporânea, como a 11ª Documenta de Kassel, a 27ª Bienal de São Paulo, Como viver junto, a Bienal de Sydney em 2008 ou a 52ª Bienal de Veneza, que em outubro de 2007 o premiou com o Leão de Ouro.

Neste 5 de abril de 2009 o MoMa - Museu de Arte Moderna de Nova York - abriu a exposição Tangled
Alphabets (alfabetos entrelaçados), mostra conjunta da brasileira Mira Schendel (1919-1988) e de León Ferrari. A retrospectiva dos dois artistas nos EUA ficará em cartaz até 15/06/09, evidenciando proximidades na exploração de escrituras, no trabalho intelectual consistente.

Visite o site oficial do artista: http://www.leonferrari.com.ar/ para percorrer virtualmente algumas de suas recentes exposições, tais como Brillos y dolores, Los músicos e Heliografías.

Não deixe ainda de comparecer ao evento de lançamento de nosso Guia do Departamento de Psicanálise, que ocorrerá na noite de 14 de maio, no auditório do Instituto Sedes Sapientiae.

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(1) Das equipes editoriais do Boletim Online e do Guia do Departamento de Psicanálise (2008-2009).

 




 
 
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