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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    10 Setembro de 2009  
 
 
NOTÍCIAS DO SEDES

Colóquio 100 anos de psicanálise com crianças


EQUIPE DO BOLETIM ONLINE


Nos dias 28 e 29 de agosto o Departamento de Psicanálise de Crianças promoveu, no Instituto Sedes Sapientiae, o Colóquio 100 Anos de Psicanálise com Crianças, comemorativo dos 100 anos de publicação de Análise da fobia de um menino de 5 anos - o caso Hans - de Sigmund Freud.

Composto por mesas-redondas e sessões coordenadas de trabalho, o evento contou com a participação de diversos membros e ex-alunos do Departamento de Psicanálise:

Na manhã da 6ª feira, Bernardo Tanis participou da mesa 1 ao apresentar trabalho em co-autoria com Myrna Pia Favilli e Maria Celina Anhaia Mello ("A infância roubada: uma reflexão sobre a clínica contemporânea"), Maria Laurinda Ribeiro de Souza participou da mesa 2, com o texto "A criança, sua doença e o Hospital como espaço terapêutico" e Eloísa Tavares de Lacerda apresentou "O caso ‘A bailarina'" na mesa 5.

Na tarde da 6ª feira, Mira Wanjtal e Tatiana Inglez-Mazzarella dividiram a mesa 8, com as exposições "Algumas questões sobre a direção do tratamento na clínica com crianças" e "A transmissão psíquica geracional na psicanálise com crianças", respectivamente. Grace Lagnado apresentou, na mesa 11, o trabalho "Françoise Dolto. A transmissão de um pensamento", que foi coordenada por Silvana Rabello.

Na noite da 6ª feira, Ana Maria Sigal e Bernardo Tanis foram os conferencistas responsáveis por trabalharem o eixo psicopatológico, com as apresentações intituladas "O que a psicanálise tem a nos dizer sobre a chamada ‘Síndrome de Desatenção com ou sem Hiperatividade', ADHD" e "A psicanálise e as neuroses na infância 100 anos depois".

Na manhã do sábado, Renata Udler Cromberg tomou parte na mesa 14, com a apresentação relativa a "Sabina Spielrein, pioneira da psicanálise com crianças", Daniela Danesi expôs "A fada-palhaço: da medicação à construção de um caminho analítico" na mesa 15, Maria Carolina Accioly apresentou "Intervenção precoce: experiências clínicas com duplas mãe-bebê" ao lado de Fernanda Ariza Lacanna na mesa 17 e Cláudia Aparecida Barros Sagula expôs "Menina ou boneca? Da alienação constitutiva à alienação sintomática e seus efeitos na constituição do sujeito" na mesa 18.

Depois do almoço, foi a vez de Paulo Jerônymo Pessoa de Carvalho, Lia Pitliuk e Vilma Florêncio da Silva dividirem a mesa 19, coordenada por Bernardo Tanis, para discutir, respectivamente: "Comunicação clínica a respeito de um caso de sonambulismo: o dormir e o sonhar", "Polimorfismo/perversão/ infantil: elementos para um estudo da compulsão alimentar em uma criança" e "Era uma vez um Pedrinho...".

Da mesa 21, coordenada por Maria do Carmo Vidigal Meyer Dittmar (Lila), participaram dois outros membros do Departamento de Psicanálise: Camila Salles Gonçalves ("Telefone, Freud e pais desastrados") e Eliane Berger ("A visceralidade da clínica: reflexões").

Na mesa 24 estiveram Cristina Maria Banduk Seguim (com Cristina Almeida de Souza, Lia Lima Telles Rudge e Sandra Grama Ungaretti) e Vera Blondina Zimmermann com as exposições: "A criança no abrigo: o lugar do educador na constituição deste sujeito" e "Entrevistas iniciais num serviço de saúde mental público: efeitos da escuta psicanalítica".

Leia a seguir a reportagem de Silvana Rabello para o Boletim Online.


COLÓQUIO 100 ANOS DE PSICANÁLISE COM CRIANÇAS

SILVANA RABELLO (1)

É com muita alegria que vemos o Departamento de Psicanálise da Criança se afirmar enquanto um espaço fértil para a promoção de discussão e de congregação daqueles que se interessam pelas inquietantes questões levantadas diariamente na prática do psicanalista que trabalha com crianças.

Isto se revelou, mais uma vez, através do colóquio cuidadosamente organizado por esse departamento, que aconteceu nos dias 28 e 29 de agosto, no Instituto Sedes Sapientiae, cujo título, 100 anos de Psicanálise com crianças, se traduziu numa interessante provocação ao trabalho. E nada mais inspirador para sustentar esta provocação do que o convite para "co-memorarmos" os 100 anos da publicação de Análise da fobia de um menino de cinco anos - para os íntimos, o texto do Pequeno Hans de Sigmund Freud, publicado em 1909.

Este texto, mesmo um século depois, revela grande potência nos estudos dos psicanalistas que trabalham com crianças, pela generosa e complexa reflexão freudiana sobre o que suscitou a escuta do sintoma de uma criança. Um texto que, além de inaugural sobre esta clínica com a criança, contempla já muitos elementos da complexidade desta clínica, numa exposição que não se propõe didática, pois o singular impede tal simplificação, nos fazendo trabalhar até hoje.

Uma certeza tal texto revela, o fato de que a psicanálise certamente é potente à circulação de sentidos do universo de uma criança e que tal circulação é bem-vinda.

Assim, o colóquio foi organizado ao redor de alguns conferencistas convidados, solicitados a trabalharem quatro eixos:

1. Histórico, Izelinda Barros (SBPSP) e Mary Ono (Sedes - Departamento de Psicanálise da Criança);

2. Psicopatológico, Ana Sigal (Sedes - Departamento de Psicanálise) e Bernardo Tanis (Sedes - Departamento de Psicanálise da Criança, Departamento de Psicanálise e SBPSP);

3. Metapsicológico, Ângela Vorcaro (UFMG e ALI) e Audrey S. Lopes de Souza (Sedes - Departamento de Psicanálise da Criança, SBPSP e USP);

4. Clínico, Alfredo Jerusalinsky (APPOA) e Márcia Regina Porto Ferreira (Sedes - Departamento de Psicanálise da Criança) e mais vinte e cinco sessões coordenadas, abertas à apresentação de trabalhos inscritos e submetidos a uma comissão científica que os organizou ao redor dos eixos citados.

Tal conjunto revelou como a criança vem fazendo a psicanálise trabalhar acerca de sua teoria e de sua técnica, revelando-se um interessante operador através deste século!

Assim como a grande quantidade de ótimos trabalhos apresentados refletiu como estes psicanalistas encontraram, neste colóquio, um espaço interessante para a circulação de suas produções!

A organização do colóquio, ao escolher para seus lugares de honra - abertura e fechamento -, convidados como Izelinda Garcia (pela primeira vez convidada a participar de uma atividade no Instituto Sedes Sapientiae) e Alfredo Jerusalinsky, portanto, reconhecidos formadores de psicanalistas que se ocupam de crianças, de diferentes tradições, revelou respeito à filiação na formação de um psicanalista, não só quanto às referências primordiais como Freud, Melanie Klein e Lacan, mas também quanto àqueles que vêm construindo o campo da psicanálise com crianças no Brasil e de quem herdamos muito, para além do que temos consciência - como ficou claro para mim, através da generosa exposição de Izelinda, a quem sou grata por isso.

Entre Izelinda e Alfredo Jerusalinsky, fomos contemplados por Ana Sigal e Ângela Vorcaro, outros preciosos formadores de psicanalistas, de espaços de formação, direta ou indiretamente, formadores de tantos de todos nós! Formadores, também, de posicionamentos frente àquele que impede a palavra de circular em nossa sociedade, como o fez Ana Sigal, à nossa frente, na interlocução com aqueles que defendem a patologização e medicação da criança como resposta a seus déficits de atenção.

Assim, Izelinda abriu o eixo histórico contemplado por vários psicanalistas durante esse evento, como Carmem Lucia Valladares e Maria Laurinda Ribeiro de Souza, que revelaram a missão da criança nos primórdios da psicanálise no Brasil, no eixo social da psicanálise carioca, atravessando nossas posições nos dias de hoje.

Como esta mesa, outras vinte e quatro contemplaram temas variados, de históricos a atuais, metapsicológicos e clínicos, refletindo sobre a educação das crianças, sobre a saúde pública, sobre mães e seus bebês, recortados por psicanalistas organizados de forma a encontrarem interlocução com seus pares, entre diferentes escolas psicanalíticas participantes - e eram muitas!

Este é outro ponto a ser exaltado aqui, o clima de trabalho construtivo entre todos estes trabalhos, entre todas as diferentes concepções teórico-técnicas ali reunidas, numa posição de escuta atenta e respeitosa, uns e outros, mostrando como essas escolas podem conversar respeitando as singularidades próprias de cada uma e fazendo-as circular e conversar entre si.

As diferentes mesas, seus participantes e os resumos de seus trabalhos estão disponíveis num site, facilitando a consulta em caso de interesse:
http://www.sedes.org.br/departamentos/Psicanalise_crianca/coloquio100anos/index.html

É a psicanálise produzindo seus efeitos para além de escritos teóricos, como um jeito de estar no mundo: acreditando que a palavra deve circular e encontrar no outro o reconhecimento de seus sentidos, como uma produção legítima, enquanto construção possível frente ao inapreensível da subjetividade humana.

Tivemos assim uma surpreendente e calorosa reunião de tantos psicanalistas, de tantas diferentes escolas, com tanto sucesso e harmonia em suas polêmicas trocas, produzindo uma marca em todos nós, deste departamento, em sua capacidade de fazer as psicanálises se falarem na direção do debate enriquecedor no universo daqueles que se ocupam das crianças.

Vale a pena lembrarmos, nesse momento, do Pequeno Hans, que lembra ao pai que a palavra deve circular, mesmo que seja só para o Professor Freud tomar conhecimento. Que confiança em sua escuta!
(1) Silvana Rabello é psicanalista, membro dos Departamentos de Psicanálise e de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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