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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    14 Setembro de 2010  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

Conrad Stein (1924-2010)


RENATO MEZAN (1)


No dia 16 de agosto último, faleceu em Paris o psicanalista Conrad Stein. Nascido em Berlim, viveu alguns anos na Inglaterra antes de se estabelecer na França, onde se formou psiquiatra em 1954. Era uma época de grande efervescência tanto na psiquiatria quanto na psicanálise: Henry Ey e Jacques Lacan eram então as figuras de proa destas disciplinas. Stein tornou-se membro da Société Psychanalytique de Paris, onde logo se destacou pela originalidade de pensamento.

Seu livro mais importante, ainda não traduzido em português, é L'Enfant Imaginaire (A Criança Imaginária, 1971). A convite do Departamento de Psicanálise, esteve no Sedes em 1988, quando proferiu conferências e deu supervisões. Na ocasião, lançou-se uma coletânea de artigos de sua lavra - O Psicanalista e seu Ofício - e pouco depois as aulas reunidas sob o título Erínias de uma Mãe: Ensaio sobre o Ódio. Ambos os livros foram traduzidos por Nelson da Silva Jr. e publicados pela Editora Escuta.

Expresso num estilo claro e elegante, o pensamento de Stein centra-se no estudo do processo analítico, em particular no que chama "os fundamentos da eficácia da palavra do analista". Foi esta a sua forma de efetuar o retorno a Freud proposto por Lacan; sua leitura da Interpretação dos Sonhos, da qual publicou alguns fragmentos, visava a compreender de que modo os conceitos freudianos se enraízam na clínica, da qual a seu ver faz parte a auto-análise do analista.

Erudito, polêmico em suas formulações, generoso com amigos e discípulos, fundou e dirigiu por muitos anos a revista Études Freudiennes, que juntamente com a Nouvelle Revue de Psychanalyse de Jean-Bertrand Pontalis foi um dos canais de renovação da Psicanálise francesa. Teve atuação importante nas questões institucionais que agitaram o movimento francês a partir dos anos sessenta; entre outras iniciativas, participou da fundação do Collège des Psychanalystes. Falante nativo do alemão, divergiu dos critérios adotados por Jean Laplanche para a tradução das obras de Freud, que, segundo ele, haviam produzido um texto pesado e desnecessariamente obscuro.

Sem dúvida, trata-se de um autor fundamental, membro de uma geração que contribuiu de modo decisivo para dar à Psicanálise sua feição contemporânea: foi com André Green, Jean Laplanche, Piera Aulagnier, Jean-Bertrand Pontalis, Joyce McDougall e tantos outros que Stein manteve relações de trabalho e debateu temas importantes para o nosso trabalho cotidiano. Sua obra permanecerá como um marco na história da nossa disciplina, e sua memória será honrada com carinho por aqueles em quem, como escreveu Roland Gori no jornal Le Monde, "ele despertou o desejo da análise".

(1) Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, onde é coordenador editorial de Percurso - Revista de Psicanálise.




 
 
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