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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    17 Junho de 2011  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

Ciclo de debates Psicanálise em trabalho 2011: apresentação


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Cida Aidar e Lucia Fuks apresentam o evento

LUCÍA BARBERO FUKS(1)


Estamos aqui reunidos para dar início a este novo ciclo de debates, o quinto na sequência histórica. A idéia deste ciclo surgiu quando tomamos conhecimento de que dois de nossos livros editados a partir dos ciclos anteriores estavam esgotados. O primeiro, Freud: um ciclo de leituras, organizado por Silvia Alonso e Ana Maria Leal, e o segundo, A clínica conta histórias, organizado por Flávio Ferraz e por mim. Daí surgiu esta nova parceria dos três organizadores.

Sempre cuidamos de que os ciclos fossem uma via de abertura do trabalho realizado pelos professores do Curso de Psicanálise para o Departamento, a comunidade Sedes, e os colegas de fora que pudessem constituir-se em interlocutores. A presença de outros membros do Departamento como coordenadores de mesa também aponta nessa direção.

Nós todos, no Curso e no Departamento, trabalhamos em psicanálise, o que não significa que seja fácil transitarmos pelos trabalhos uns dos outros.

Os ciclos potencializam esse trânsito, essa conversa produtiva. E quando pensamos uma das jornadas anteriores, O sintoma e suas faces, reunindo os três cursos, também foi assim: todos tínhamos algo a dizer sobre o sintoma, então esse era o disparador para que nos escutássemos, para que cada um abrisse sua caixa de ferramentas e trabalhasse na construção de um diálogo.

Dar o nome a este ciclo de Psicanálise em trabalho é fazer referência e englobar, no próprio título, o que acabo de dizer. Psicanálise em trabalho: a psicanálise em sentido amplo trabalhando, mas também, em uma compreensão mais imediata, nosso curso trabalhando.

Um subtítulo poderia ser ainda o trabalho do analista. O trabalho do analista, se formos pensar, tem uma relação de proximidade com conceitos freudianos como trabalho do sonho, do chiste, trabalho do luto, trabalho do aparelho psíquico e perlaboração. Todos eles vinculados à noção de processo, elaboração e re-elaboração.

A série de termos conceituais freudianos ligados à noção de trabalho nos fala de rendimentos específicos do aparelho psíquico que implicam complexas tramas de operações e produções. Algumas delas só existem quando são compartilhadas, como os chistes.

Espero que nossa proposta deste ciclo de debates não seja um chiste, mas ela implica também um trabalho que só poderia existir sendo compartilhado.

Implica um esforço, que desejamos, isso sim, que seja prazeroso.

Se considerarmos a pulsão, conceito fundamental da metapsicologia freudiana, ela não se define justamente como a exigência de trabalho que impõe ao psíquico sua relação com o corporal? Por essa perspectiva, a idéia de trabalho em sua dimensão de esforço não surgirá, não se tornará presente e necessária, justamente ali onde se coloca uma relação que envolve uma descontinuidade: consigo, com o corpo, com o outro, com o mundo?

Exigência de trabalho. Exigência - para nós analistas - de estar em trabalho, por estarmos colocados no mundo, como dissemos na convocatória, sujeitos às transformações que nele acontecem. As formas de sofrimento mudam, e também as formas de subjetivação, impondo-nos novas demandas. A prática coloca assim, para a psicanálise, a exigência de estar em trabalho, em movimento, permanentemente, revendo nossos conceitos.


Em que condições a exigência da pulsão e a exigência do mundo se resolvem em prazer?

No caso do trabalho do analista, são produções reguladas pelas características do método psicanalítico, os objetivos de sua aplicação e as particularidades dos atores, nas condições histórico-sociais em que se realizam. A construção de teoria psicanalítica surge a partir das interrogações que a clínica lhe coloca, mas também do que provém do campo da cultura.

Freud também caracteriza o trabalho do poeta e do criador literário como a capacidade de processar, designar e representar fantasias que são comuns a todas as pessoas.

Pessoas que, através da arte, recebem um plus de prazer que ajuda a vencer as barreiras do recalquee aceitar percepçõesque, de outra maneira, resultariam insuportáveis.

Em "Recordar, repetir e elaborar", referindo-se ao trabalho do analista, Freud o delimita através da arte da interpretação, ato no qual o analista tem que integrar seus conhecimentos teóricos: elaborados, esquecidos, re-elaborados, reconstruídos por ligações com lembranças do paciente e de sua própria vida.

O analista deve achar, em toda essa trama, a possibilidade de criar uma forma de linguagem e conteúdo para as intervenções com esse paciente, que possibilite a suspensão de circuitos estereotipados e a recuperação de histórias esquecidas. Entendemos a perlaboração como uma repetição, porém modificada pela interpretação, e por isso suscetível de favorecer a libertação do sujeito de seus mecanismos repetitivos.

Sem tornar possível alguma quota de prazer, através da criatividade e do humor presentes nas intervenções do analista, não seria concebível levantar o recalque e fazer consciente o recalcado, já que, por definição, isso produziria uma liberação de angústia e desprazer. É o que postulava Piera Aulagnier em um trabalho importante sobre a interpretação.

Apontamos aqui algumas facetas do tema do trabalho em psicanálise, com o intuito não só de justificar o título escolhido, mas também de entrever as múltiplas vertentes e desdobramentos que, partindo dele, podem vir a ser desenvolvidas ao longo das mesas redondas, que com certeza darão estímulos para uma participação produtiva de todos nós.

(1) Lucía Barbero Fuks é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do Curso de Psicanálise e co-coordenadora do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma.




 
 
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