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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    19 Novembro de 2011  
 
 
O MUNDO, HOJE

Eduardo Peñuela Canizal ensina a ler Frida na Cinemateca


SÍLVIA NOGUEIRA DE CARVALHO (1)


De maio a outubro deste ano, a Cinemateca Brasileira promoveu o Ciclo de Cinema e Psicanálise - América Latina sem fronteiras, às 18h dos domingos em que se projetaram filmes a serem debatidos entre o público e diversos profissionais de arte e cultura, sob a mediação de psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) que, assim como a Folha de São Paulo e a Universidade São Marcos, apoiava o evento.

Sob a coordenação de Leopold Nosek, Presidente da FEPAL - a Federação Psicanalítica da America Latina, parceira do evento -, a escolha dos filmes visava concentrar-se em questões particulares do imaginário latino-americano.

No dia 9 de outubro tive a grata oportunidade de conhecer Eduardo Peñuela Canizal, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo, onde coordena o Centro de Pesquisa em Poética da Imagem. Convocado a debater Frida, a co-produção EUA/Canadá/México que a cineasta americana Julie Taymor dirigiu em 2002, Eduardo iniciou sua intervenção problematizando a estética dessa fita, mais afeita a sublinhar as particularidades dramáticas da obra da pintora mexicana na relação com sua tumultuada história de vida, conforme as armadilhas dos "fastidiosos mitos da sociedade de consumo" (Octavio Paz, citado por Canizal).

A despeito das vibrantes cores obtidas pelas lentes do fotógrafo Rodrigo Prieto e dos eventuais benefícios identificatórios desfrutados pelo público presente - sobre os quais Eduardo foi interpelado por Ana Maria Andrade Azevedo, mediadora do debate -, o professor enfatizou os antecedentes que a linguagem do cinema encontra em outras linguagens, a fim de mostrar que a relação entre a cultura mexicana e sua tradição indígena não é praticamente explorada nesse filme. Vale notar que é justamente ao interesse de colocar em evidência a tradição pré-colombiana vinculada à figura mítica da deusa das flores e da eterna juventude que se dedica o artigo de Canizal disponível na internet, intitulado Frida Kahlo entre as flores de Xochiquétzal

(http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/comeduc/article/viewArticle/4387 ).

Em contraponto, Eduardo falou extensamente sobre o valor de um filme anterior - Frida, naturaleza viva -, dirigido por Paul Leduc em 1983, apontando para o êxito daquela produção em "deixar de resolver de antemão" os problemas da poesia. Leitor de Freud, Canizal lançou mão das contribuições psicanalíticas relativas aos processos oníricos para valorizar, como marca dos textos pictóricos, o fato de nunca serem definitivamente claros: "Primeiro um sentido claro para, depois, um enigma". Tecido fragmentariamente, através de condensações do tempo e do espaço, a emolduração do bem sucedido filme de Leduc encontrou inspiração em fragmentos do Diário de Frida Kahlo. Porque somos do tamanho do que vemos (Alberto Caeiro, citado por Canizal), para nossa sorte, a fita de Leduc se encontra postada no youtube, dividida em capítulos a partir do seguinte endereço:
http://www.youtube.com/watch?v=zqZze5D-gV0

 

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1 Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e da equipe editorial deste Boletim Online.




 
 
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