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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    19 Novembro de 2011  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

O jogo, uma forma de acesso ao inconsciente, sua importância diagnóstica na infância


ANA MARIA SIGAL (2)
Suportar o paradoxo em lugar de reduzi-lo


É um imenso prazer estar na abertura deste congresso. Agradeço aos organizadores, à Presidenta do congresso Leyla Salomão de La Plata Tardivo, e à querida professora Rosa Affonso, a quem conheço há muitos anos. Também tenho uma palavra de agradecimento para aqueles que, sendo meus colegas, meus formandos, meus alunos ou meus pacientes, me possibilitaram refletir e caminhar na dura tarefa de desenvolver a psicanálise. Agradeço também a vocês por estarem aqui comigo compartilhando estas ideias.

Agradeço este convite especialmente porque a ludoterapia tem sido uma marca na minha história e na minha formação como psicanalista. Comecei meu trabalho clínico como psicóloga no Hospital de Clínicas da Universidade de Buenos Aires, no Serviço de Psicopatologia infantil. Minha primeira experiência docente, há 40 anos, foi na cadeira de Psicodiagnóstico e Técnicas Projetivas na Faculdade de Psicologia da Universidade Nacional de Buenos Aires. Naquela época era titular Maria Luisa Ocampo, professora de cujos ensinamentos muitos de vocês se nutriram para fazer seus caminhos no psicodiagnóstico, já que publicou um livro que foi traduzido para o português e é referência para muitos psicólogos. Neste livro, publicado em 1974, o artigo "A Hora de Jogo Diagnóstico" é de minha autoria, escrito com outros colegas da cadeira.

A problemática do psicodiagnóstico em psicanálise e em psicologia em geral nos confronta, em primeiro lugar, com a complexidade de pensar o que é um psicodiagnóstico. Começarei por aí e depois abordarei o conceito de jogo e a hora de jogo como material diagnóstico.

No começo do trabalho levanto uma consigna que é de fundamental importância para nos guiar em nossa tarefa: "Suportar o paradoxo em lugar de reduzi-lo". Durante um tempo se colocou em questão a conveniência de fazer diagnóstico porque, em geral, este servia para fazer referência a uma nosografia que encapsulava o paciente em uma série de determinações que, com certa rigidez, mostravam possíveis condutas e determinantes psíquicos. Enunciava-se um diagnóstico com caráter de certeza e se coagulava a história do paciente como se fosse uma fotografia. Hoje em dia este tem se recuperado porque reformulamos a ideia de qual é o objetivo de diagnosticar um paciente. O diagnóstico tem que incluir a ideia de movimento, rever o passado por ressignificação, e prospectar o futuro como se já fosse presente, dar conta de um devir que se faz presente e se projeta no futuro.

Com o passar do tempo as ciências chamadas exatas foram mudando seus paradigmas. A física da causalidade deixou de ser inspiração para falar dos processos psíquicos. Hoje em dia as ciências da conduta também mudaram os paradigmas nos quais se embasam, e trabalham mais com a ideia de processualidade, que acentua a importância de uma estrutura em movimento. Nessa medida, o psiquismo tem a característica de ser uma estrutura em permanente criação (autopoiético) e se alimenta do encontro com a alteridade e o mundo, a partir do qual a formação da subjetividade está em um permanente devir. Já não pensamos mais a formação do sujeito como uma série de extratos que vão sendo adicionados por somatória. O tempo da ressignificação faz com que exista um reordenamento permanente das relações do sujeito com suas fantasias, lembranças encobridoras, precipitados identificatórios que geram nova subjetividade. A ideia de determinismo psíquico, mesmo entendida como sobredeterminação, começa a ser revista em favor das mudanças teóricas que a física e a matemática atuais nos oferecem. Um exemplo é a teoria do Caos e da Complexidade, a partir das quais se pode falar de incerteza no seio de organismos ricamente organizados. Estas teorias nos servem para encontrar novas formas de organização nas ciências humanas. O conceito de estruturas dissipativas expressa a possibilidade que os materiais e os sistemas têm de adquirir novas formas organizativas por meio de uma capacidade de "auto-criatividade". A mudança de uma variável, por insignificante que seja, pode adquirir um valor transformador. É preciso estarmos abertos a organizações simbólicas novas, disruptivas e inesperadas, as quais mostram a capacidade produtiva de um organismo em permanente movimento, constantemente atravessado pela realidade do presente, do passado e do futuro, mas como um movimento dentro do movimento. Em outras palavras, estamos nos referindo à questão do tempo num sistema aberto, onde passado, presente e futuro não correspondem a uma linearidade, mas formam parte de uma mesma realidade.

Os elementos mencionados acima trazem um ar novo e permitem revalorizar o processo de diagnóstico, reencontrando um estatuto que lhe permita ocupar o lugar que merece na clínica. A forma pela qual nos dispomos a fazer um diagnóstico pode colaborar com a desconstrução das categorias psicopatológicas, para que possamos adentrar na gênese da formação dos processos e na dinâmica dos mecanismos. Portanto, entendemos que, a partir desta perspectiva, o diagnóstico visa a abordar a articulação dos processos, o encadeamento das sequências e as transformações surgidas no decorrer de uma história individual e singular, onde a teoria funcionará como uma baliza que nos propiciará apoio, e nunca como um pensamento esquemático que pretenda dar conta da complexidade própria de nosso objeto de estudo.

Na medida em que se abandonou a rigidez dos índices fenomênicos e se utilizou o psicodiagnóstico para pensar os movimentos internos, os conflitos, os modos como a subjetividade tinha advindo, na medida em que nos mostra desdobramentos e não estratificações, o diagnóstico retoma seu lugar nos consultórios.

Nosso interesse em elaborar ou solicitar um diagnóstico, sejamos psicoterapeutas, psicanalistas, médicos, fonoaudiólogos ou educadores é o de abordar os processos que tecem a malha dinâmica da complexidade do indivíduo sempre com a ideia de abrir, de analisar, e não como modo de sintetizar.

No meu entender o psicodiagnóstico possibilita mapear e cartografar as diferentes articulações que constroem a subjetividade, permitindo elaborar hipóteses que precisam ficar em aberto para que se confirmem ou se modifiquem no decorrer de um processo. Freud nos diz em Psicoterapia da Histeria (1895) que ele é relutante em estabelecer diagnósticos, e que estes estão sujeitos a modificações durante a cura. Quando estuda casos e se refere à histeria, à fobia ou à obsessividade nos dá um panorama de múltiplos mecanismos, interações, sintomas, nos abre um leque para pensar processos e não um glossário de dicas para capturar a subjetividade.

Tenho a mesma posição quando nos referimos a diagnósticos de inteligência, ou diagnósticos que não trabalham tanto com elementos projetivos. Entendo que nestes materiais as diferenças que encontramos são permeadas pelo momento de vida, por situações afetivas, onde a objetividade pretensa está sempre permeada pelos determinantes inconscientes.

No campo da Saúde Mental a situação que nos propõe o DSM-IV e, hoje, o DSM-V não condiz com o que o pensamento psicanalítico nos propõe como ética. Durante muitos anos a psicanálise nutriu estes manuais de diagnóstico de saúde mental em harmonia com a psiquiatria. Nas últimas publicações constatamos que as neuroses e outras nosografias aportadas pela psicanálise não figuram mais e, em seu lugar, numerosas síndromes apareceram. A neurose obsessiva e as fobias são exemplos disto. Elas se transformaram em transtorno obsessivo compulsivo (TOC) ou síndrome do pânico. Se nos exigem operar com índices classificatórios que acabam com a singularidade do paciente, transformando-o num número ou num título no qual cabem inúmeros indivíduos, com características absolutamente diversas, este modo de diagnosticar acaba não dizendo nada do sujeito e dos mecanismos que promovem os conflitos, sintomas ou distúrbios. Produz-se um controle sobre os conceitos de Saúde e Doença que aponta cada vez mais para a medicalização do paciente, e se trabalha fundamentalmente com os conceitos de são e doente, cuja dicotomia não é oriunda da tradição psicológica, muito menos da psicanalítica.

A psicanálise, com Freud, Melanie Klein, Winnicott, Lacan e outros autores nos confronta com a evidência de que são os mesmos mecanismos os que operam na formação da subjetividade e na patologia, na saúde e na doença.

Reforçamos a ideia de que trabalhamos o diagnóstico com caráter de processualidade, de uma estrutura em movimento, determinada pelas marcas históricas que, inscritas na psique, vão permitindo a construção de uma outra cena, na qual passado, presente e futuro não correspondem a uma linearidade, mas formam uma mesma realidade - a realidade do desejo. O realismo do inconsciente é as estruturas que com ele interatuam, como ego e superego.

Diagnosticar, neste sentido que estamos trabalhando, significa provocar o inconsciente, convocá-lo a se manifestar. Significa também que existe um outro para escutar, e esse Outro será o suporte da transferência.

Vamos mergulhar nesta ideia para entender que o jogo, em si, não é uma atividade que permite realizar um diagnóstico. Ver uma criança brincar no pátio da escola não é suficiente para que se revele seu mundo interno. O jogo ganha sentido de discurso quando está endereçado a alguém e, neste caso em particular, a alguém que pode saber do nosso inconsciente. Interpretar um recorte de jogo ou de desenhos produzidos fora da transferência é uma conduta abusiva e invasora que violenta a criança e nossa ética.

O jogo tem valor diagnóstico quando é produzido para alguém por quem desejamos ser escutados. No meu ponto de vista faço uma diferença entre o brincar e o jogo, entendendo o primeiro como campo de experiência, com alto valor criativo e reconhecimento da realidade, apoiando-me fundamentalmente na noção winnicottiana de brincar. Por outro lado, o jogo, como Freud o descreve no jogo do carretel, adquire a condição de linguagem lúdica, podendo torna-se discurso.

Winnicott, quando se refere ao brincar, interessa-se mais pelo aspecto criativo de produção e exercício de liberdade, do que pelos seus aspectos inconscientes ou pelos conteúdos inconscientes que veicula. Utiliza o brincar como diagnóstico para ver a posição do sujeito face aos processos de integracão-desintegração, ilusão-desilusão, manipulação de objetos e capacidade de conter a experiência. A criança desenvolve sua criação num espaço transicional, como nos diz Winnicottt, no qual a realidade do brinquedo acaba exercendo um limite, funciona como não eu. Pode pertencer ao mundo da realidade, assim como ao mundo interno. É um espaço entre, de alguma maneira herdeiro do espaço transicional. O brincar é um fenômeno transicional que não corresponde nem ao fora nem ao dentro. Dá-se numa zona intermediária, espaço potencial do ser humano que, no adulto, reaparecerá em manifestações como a cultura, a religião e a criatividade.

Podemos dizer que, para Freud, no jogo se reproduzem as regras de metáfora e metonímia, típicas da linguagem. Criam-se sentidos inexistentes e, como o sonho, podem ser lidos como uma formação do inconsciente. Melanie Klein dá ao jogo um sentido simbólico, entende que ali se manifesta a vida psíquica formada pelo mundo fantasmático, que revela o inconsciente da criança.

O jogo tem um amplo espectro para ser compreendido, pode revelar para nós uma diversidade de mundos. A informação que dele poderemos obter dependerá do olhar e da área de pesquisa que a ele se destine. Podemos ver a evolução psicomotora de uma criança, detectar habilidades, permitir que se reconheça o estado de sua motricidade fina, avaliar a maturidade neurológica e conferir se corresponde ao esperado no momento evolutivo. Podemos detectar o desenvolvimento cognitivo, utilizando o referencial piagetiano. Avaliar sua criatividade, ter referências em relação ao uso do traço e das cores, assim como pesquisar a capacidade simbólica.

Todas estas funções são formas de avaliação dos elementos egóicos de interesse para completar um diagnóstico. Mas o jogo, para o psicanalista, tem uma especificidade que permite detectarmos os enigmas que se inscrevem no inconsciente, nos aproximarmos da sexualidade infantil, adentrarmos nas defesas, nos sintomas, nos conflitos e nas dinâmicas psíquicas que percorrem a subjetividade num momento preciso. Assim pensado, o jogo adquire outro sentido.

Jogo e linguagem, jogo e simbolização, jogo e criatividade, jogo e repetição e jogo e sonhar, são diversas abordagens que podemos encontrar na psicanálise. Freud associa a produção lúdica da criança à produção do poeta. Diz que "toda criança, ao jogar, se comporta como um poeta, pois cria um mundo próprio e transforma o mundo segundo uma nova ordem de acordo com seu agrado". Aprofundando esta ideia percebemos que a palavra agrado não se refere ao simples gostar, mas faz referência à satisfação do desejo inconsciente, à busca de uma organização nova da realidade psíquica que dê conta da frustração e da desilusão de não poder se reencontrar com o objeto perdido. Freud nos dirá que os desejos insatisfeitos são as forças pulsionais da fantasia e que cada fantasia, assim como o brincar, é uma tentativa de dar conta de uma insatisfação da realidade. Assim como no sonho o mundo pulsional procura vias de satisfação, no jogo a criança tenta transformar a realidade segundo seu desejo, mas o pensamento primário, com sua lógica particular, tem que se adequar a uma lógica mediada pelo pensamento secundário, que lhe exige a realidade do brinquedo. No sonho, a imagem e a palavra têm uma plasticidade que os objetos às vezes não possuem. Aqui entra a proposta desenvolvida por Mannoni e Dolto, de inspiração lacaniana, que não utiliza brinquedos no trabalho com crianças, mas trabalha com massinha e folha em branco, porque isto poderia produzir a ambiguidade necessária a um verdadeiro significante. Os brinquedos limitariam a possibilidade de deslizamento significante, pela característica da estrutura de suporte material.

Freud e Melanie Klein apostam no jogo como uma verdadeira manifestação de via de acesso ao inconsciente. Para Freud o jogo da criança implica realização de desejo, mas ao mesmo tempo tem uma função de elaboração traumática, entendendo que princípio do prazer e compulsão à repetição são dois determinantes do jogo.

Compulsão à repetição e satisfação pulsional prazerosa direta parecem entrelaçarem-se em íntima comunidade.

Estamos aqui no Freud de 1920, que atribui ao princípio do prazer um mais além. Aqui princípio do prazer e princípio de realidade, os dois princípios do suceder psíquico, apresentam uma difícil articulação. Às vezes é necessário renunciar ao propósito de um ganho rápido de prazer e tolerar provisoriamente o desprazer, num largo rodeio para conseguir a diminuição de tensão que nos daria o prazer, finalmente. Freud se pergunta como é possível que um sujeito repita seu sintoma, se este o faz sofrer. Que realização alucinatória de desejo há em um jogo traumático que faz sofrer?

O jogo do fort-da, jogo por excelência, nos confronta com estas duas tendências. Freud se pergunta: como a criança que sofria com o abandono da mãe repetia, na qualidade de jogo, uma vivência penosa para ele?

Ao brincar, a criança se coloca num papel ativo que o faz ator do que antes sofria passivamente, tenta uma dominação simbólica da situação, obtém deste modo um ganho direto, troca a atividade do vivenciar pela atividade lúdica. Quando observamos uma criança brincando se faz necessário ter presente este Freud, temos que entender que o jogo permite entender que "mesmo sob o império do princípio do prazer, existem suficientes meios e vias para converter em objeto de lembrança e elaboração anímica o que, em si mesmo, é desprazeroso". Freud neste artigo postula a pulsão de morte não só como retorno ao inanimado, mas como mola da pulsão de vida. Diz: "O princípio do prazer parece estar a serviço da pulsão de morte."

Quando a criança joga, começa a colocar a palavra no lugar do objeto. Fort-da, vai e volta, aaa,ooo, finalmente, já nem precisa soltar o carretel. Só na pronúncia das palavras repete o jogo sem a realização em ato. Neste jogo podemos ver a emergência de um sujeito e a função da linguagem. A criança produz o aparecimento de um objeto com sentido diverso. Na ausência da mãe, põe um objeto que presentifica a ausência, o objeto desaparece e a criança guarda dele a imagem. É um significante da ausência que representa um imaginário que logo pode ser assumido no simbólico, quando é só palavra.

Este movimento nos introduz no valor do jogo como linguagem. A criança, ao jogar, além de seu repertório linguístico utiliza objetos-brinquedos que funcionam como significantes que portam sentido segundo a forma que se relacionam com outros significantes. Entendo esta concepção como uma chave para trabalhar com o jogo como uma linguagem e não como atribuição simbólica pelo que alude a figurabilidade do brinquedo.

Melanie Klein foi sem dúvida uma antecipadora da função do brinquedo nesta qualidade. Os pequenos brinquedos pouco estruturados permitiam que se fizesse uma múltipla atribuição de sentido, com o qual se permite que cada brinquedo tenha uma função polissêmica. Na hora de ludo, um brinquedo em si não significa nada, a não ser em relação aos outros brinquedos-significantes que dão sentido ao jogo. Portanto, assinalamos que o brinquedo em si não possui um valor simbólico, como preconizam algumas escolas. Ele funciona apenas como suporte de significado, numa função significante que permite entender o jogo como um texto. Dar um revólver para que emerja a agressividade, água ou massinha para ver os fantasmas anais, significa entender que o brinquedo tem, em si, o valor simbólico, e não o sentido que a criança lhe atribuirá, segundo sua associação em função de sua própria história.

Veja esse exemplo: numa hora de ludo uma criança brincava com uma raposa de pelúcia. A terapeuta interpretou que a criança queria mostrar sua agressividade, pelo tamanho dos dentes e a suposta maldade deste animal. Quando interrogada sobre o bichinho, a criança disse: "Eu durmo com um parecido, ele é bom, porque é macio".

Em contraposição Anna Freud fala da necessidade de oferecer brinquedos que representem a realidade, como modo de avaliar elementos que estão mais ligados ao eu. Coloca na caixa de ludo objetos bem estruturados para investigar as diferentes áreas de interesse.

Na hora de ludo, o psicanalista diagnostica a partir das leis de deslocamento, condensação, simbolização, transformação no contrário... O jogo tem a mesma função do sonho. O recalque tenta se opor às pulsões que desejam abrir vias de realização. O jogo é uma ação livre com sentido de como se, sentida e situada fora da vida cotidiana. Por seu acento ficcional permite que a partir do como se, se interrogue o nó do lúdico.

O jogo é, portanto, um dizer no qual os significantes verbais podem expandir seus sentidos. Se, em lugar de esperar que dele surja o sentido, lhe impomos ou mesmo o interpretamos simbolicamente, estamos muito próximos de aplicar o conceito que Piera Aulagnier denomina violência secundária, em oposição ao conceito de violência primária, fundamental para a formação da subjetividade. A violência constitutiva é aquela na qual a mãe empresta palavras para aquilo para o qual a criança ainda não fez linguagem, nomeia aquilo que a criança não pode nomear e lhe oferece um repertório linguístico que vai constituindo sua subjetividade. Na violência secundária, a criança já teria condição de abordar seu desejo, de expressá-lo, mas a mãe ignora esta qualidade e lhe atribui um sentido ao gesto, com o qual silencia a criança e mostra sua incapacidade para escutar o que a criança sabe de seu desejo.

O terapeuta tem que saber esperar, tem que suportar o paradoxo e permitir que o jogo se transforme em verdadeira expressão daquilo que o paciente quer manifestar e daquilo que o terapeuta deseja saber.

É no encontro entre terapeuta e criança que a hora de ludo adquire verdadeiro sentido de diagnóstico, de diagnóstico aberto, de expressão do inconsciente. A hora de ludo ganha dimensão e se oferece a nós como ferramenta principal para saber da subjetividade de uma criança em pleno potencial e desenvolvimento.

 

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1A revisão deste texto foi feita pela psicanalista Mara Ziravelo.
2 Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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