FLÁVIO CARVALHO FERRAZ, LUCIA BARBERO FUKS,
SILVIA LEONOR ALONSO [1]
Flávio Ferraz, Silvia Leonor Alonso e Lucía Barbero Fuks
Quinta-feira passada, dia vinte e cinco de outubro, foi dia de festa, de comemoração!! O lançamento do livro Psicanálise em trabalho (Departamento de Psicanálise/Editora Escuta), reuniu quase duzentas pessoas no Sedes. Momentos alegres, importantes na instituição, já que permitem reconhecer nela a fertilidade e a vida. Num clima de muita satisfação comemoramos a realização do quinto livro da série, dando seguimento a uma história que começou em 1995, quando o grupo de professores do Curso de Psicanálise organizou um primeiro Ciclo de debates, uma mesa redonda por mês ao longo do ano, e os textos apresentados nas mesas foram reunidos num livro: Freud: um ciclo de leituras. A este se seguiram novos ciclos e livros: A clínica conta histórias (2000), Desafios para a psicanálise contemporânea (2003) e O sintoma e suas faces (2006). Neste último foram incluídos também textos de professores dos dois cursos de aperfeiçoamento do Departamento.
A transmissão da psicanálise, levada a cabo em nossa instituição, implica num sério e rigoroso trabalho de produção de saber realizado pela equipe de professores. Os Ciclos de debates permitem que essa produção seja discutida entre os colegas do Departamento e, ao converter-se em livros, que o pensamento gerado esteja ao alcance dos colegas de fora, além de marcar um importante lugar no campo psicanalítico.
A forma como a Psicanálise é pensada por nós fundamenta-se na obra de Freud, e se vê enriquecida pelos pós-freudianos e autores contemporâneos. Um pensamento em movimento, que se renova pela reflexão a partir das questões apresentadas em cada momento da história, e que é recriado numa constante inda e vinda entre os fundamentos e os desafios que a clínica, na atualidade, coloca aos analistas.
Acreditando que o estudo rigoroso de Freud é o eixo fundamental da transmissão, esses livros testemunham o conhecimento profundo da teoria freudiana.
Numa circulação de mão dupla, da clínica à teoria e da teoria à clínica − lembrando que a psicanálise é uma teoria, um método de tratamento e de pesquisa −, os textos dessas publicações retomam as novas patologias e as problemáticas colocadas pela clínica na atualidade.
O mundo contemporâneo violento e conturbado, em que a vigilância social permanente restringe a privacidade, esse mundo, com ideais tão fortemente colocados sobre o corpo, com o excesso de espetáculo e falta de interiorização das questões, com o consumismo e a exigência de satisfação total e imediata −, produz novas subjetividades e caminhos de pulsão. Importantes reflexões sobre estes temas, assim como sobre os desafios que a cultura impõe à psicanálise neste novo mal-estar da cultura, estão presentes nesses livros.
O livro Psicanálise em trabalho, que reúne os textos do ciclo do mesmo nome realizado em 2011, mais uma vez, mostra uma psicanálise em movimento, que trabalha a si própria. Cientes de que nós, psicanalistas, estamos colocados no mundo e, portanto, sujeitos às transformações que nele acontecem, entendemos que as formas de sofrimento e de subjetivação se modificam e novas demandas nos são impostas. A prática exercida no meio destas mudanças exige que a psicanálise esteja permanentemente em trabalho e em movimento, afinando, ampliando e complexificando seus conceitos a fim de mantê-los vivos e férteis para a clínica.
Neste livro, o grupo de professores do Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae revisita os fundamentos metapsicológicos da psicanálise, retrabalhando temas fundamentais de Freud e autores pós-freudianos, a partir das interrogações e impasses da clínica cotidiana de nosso tempo. O termo trabalho, na obra de Freud, denota a complexa trama de operações do psiquismo a partir da exigência da pulsão, presente no trabalho do sonho, do luto, do chiste ou da criação literária e artística, que vem em auxílio dos processos de elaboração quando se trata do inominável.
Os sonhos, as pulsões, a sexualidade infantil, o trabalho do analista, os sintomas individuais e institucionais e os imaginários culturais são tópicos trabalhados nos textos. Esse re-trabalho solicita ampliação da metapsicologia, conhecimento rigoroso dos conceitos e recuperação fértil dos mesmos para dar conta de tempos que são outros, de clínicas que nos deparam com subjetividades diferentes, de espaços que habitamos e que se modificaram, de imaginários sociais e culturais que apresentam novas figuras.
Esperamos que a leitura do livro inaugure uma nova volta em espiral nas trocas institucionais e nos abra, mais uma vez, para as trocas com os colegas de fora da instituição.
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[1] Psicanalistas, membros do Departamento de Psicanálise e professores do Curso de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, Lucía, Flavio e Silvia são os organizadores do ciclo e do livro Psicanálise em trabalho.