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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    24 Abril 2013  
 
 
PSICANÁLISE E POLÍTICA

MOVIMENTO PSICANÁLISE, AUTISMO E SAÚDE PÚBLICA – MPASP


DENISE M. C. CARDELLINI [1]
ELOÍSA LACERDA [2]
VERA ZIMMERMANN [3]


O Departamento de Psicanálise do Sedes, através de seus representantes, está participando do MPASP desde seu início, em dezembro de 2012, como também estão participando diversas instituições psicanalíticas de São Paulo e de outros estados do Brasil, grupos de formação de psicanalistas, docentes universitários encarregados da transmissão da psicanálise, trabalhadores da rede pública em Saúde Mental e ainda outros profissionais das áreas da Saúde e da Educação. Inicialmente formou-se o primeiro Comitê Gestor do Movimento, composto pelas psicanalistas: Cláudia Mascarenhas (BA), Gabriela Araújo (SP), Maria Cristina Kupfer (SP), Maria Eugênia Pesaro (SP) e Paulina S. Rocha (Recife – PE e SP). Maria Eugênia Pesaro, do Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica (L. V.) e em nome dessa instituição, convocou a todos para uma reunião no L. V. para debater tanto os posicionamentos e as ações no enfrentamento da proposta do setor público estadual em limitar as abordagens terapêuticas – excluindo a psicanálise do campo do tratamento das crianças autistas ou dos estados autísticos (Edital de contratação e fechamento do CRIA/Unifesp), quanto para nos organizarmos coletivamente como um movimento de cunho político.

Neste primeiro encontro (15/12) foram propostos os temas específicos para a formação de Grupos de Trabalhos - GT, cujas produções seriam apresentadas em uma Jornada nos dias 22, 23 e 24/3 no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O objetivo de mais curto prazo do MPASP (depois de se ter organizado um Google Groups para as trocas virtuais do Movimento, escolher gerenciadores para os GTs com seus respectivos e-groups) era a elaboração de textos, alguns, preferencialmente, em linguagem acessível para a mídia, para pais e para outros profissionais da Saúde e Educação não familiarizados com a terminologia da psicanálise. E para agilizar a divulgação do movimento, foi contratada uma assessoria de imprensa.

Treze GTs com temáticas diferentes mas interrelacionadas foram formados e estes foram organizados em torno de três grandes eixos visando à organização da Jornada:

1 - Políticas Públicas em Saúde Mental para a infância e para o atendimento da criança com autismo
2 - Ciência e Psicanálise
3 - A Clínica Psicanalítica para crianças com autismo

O primeiro dia da Jornada e o período da manhã do segundo dia foram destinados somente aos profissionais e às instituições participantes do MPASP e serviram para a apresentação das produções dos grupos e para as contribuições vindas da plenária, com o intuito de melhorar a abrangência dos textos em sua forma final. Na tarde do segundo dia foram feitas apresentações de profissionais de dentro e de fora do Movimento em três mesas redondas para debater os três eixos temáticos da jornada. Essas apresentações foram também abertas ao público – profissionais que não faziam parte do movimento, mas que trabalham na área da saúde e da educação pública e privada. No terceiro dia, o do encerramento, foi feita uma Assembléia somente para os integrantes do movimento visando entre os muitos assuntos, a prestação de contas, a organização/composição de um novo Comitê Gestor (CG) para dar continuidade ao que o primeiro CG fez até o momento de ser feita a passagem da gestão e a escolha de representantes( porta- vozes) que irão falar na mídia representando o movimento, além da escolha da data para a próxima reunião do grupo todo(25/05/13).

Ao longo desses encontros – os do grupo todo sempre presenciais, e os dos GTs temáticos, presenciais e virtuais – o que se observou é que a possibilidade de termos um trabalho coletivo interdisciplinar e intersetorial em rede nacional, garantiu uma participação intensa de praticamente todos os integrantes e das instituições por eles representadas, além de uma também intensa troca teórico-clínica (com todos enviando seus textos publicados para o e-group do Movimento ou para os e-groups temáticos) e também uma proliferação de publicações estrangeiras, de blogs e de filmes de profissionais de outras instituições internacionais sobre o assunto.

Nosso Departamento esteve representado por: Denise Cardellini, Eliane Berger, Mario Fuks e Sílvia Ribes no GT1; Ana Sigal no GT6; Mira Wajntal, Elô Lacerda e Vera Zimmermann no GT10 (embora alguns não pudessem estar presentes sempre, todos participaram ativamente das trocas virtuais e contribuíram de modo importante).

A partir de um texto disparador escrito por Denise, o GT1 com o tema Políticas Públicas, Psicanálise e Autismo, por meio dos encontros presenciais e contribuições virtuais do grupo, pôde realizar numa construção coletiva a escrita de um texto Políticas Públicas em Saúde Mental para a Infância (Clique aqui para ler o texto). Neste, efetuou-se um resgate histórico e bibliográfico, mapeando o existente em termos de política pública para esta faixa etária, bem como pensando e discutindo propostas com novos rumos para essas políticas, de modo que elas possam melhor operar no campo da subjetividade.

Elô, Mira e Vera participaram do tema Intervenção Precoce e Diagnóstico e ativamente cuidaram da confecção do texto do GT10 que, inicialmente, foi escrito por Mira para dar o start e o grupo se fez presente na continuação dessa escrita coletiva. A seguir, nomeamos outros grupos que apresentaram a sua produção na Jornada:

- Panorama das questões envolvendo Psicanálise e Autismo na França
Este texto apresenta uma revisão do material francês sobre Psicanálise e Autismo. Ele foi realizado por um grupo de trabalho pertencente ao Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública. Em função da pluralidade de autores, o texto apresenta uma leitura singular sobre os fatos, que fala das relações de transferência de trabalho que os autores apresentam com os interlocutores franceses. Uma visão mais ampliada será feita em um trabalho futuro. O objetivo deste grupo de trabalho é refletir as polêmicas envolvendo Psicanálise e Autismo na França. Para isso, começaram por uma breve revisão sobre a suposta crise da psicanálise na França, para chegarem aos diversos fatos políticos e sociais que marcaram as discussões sobre autismo nos últimos anos.

- Bebês em risco de autismo e os recursos do psicanalista para ajudá-los
Trata-se de um texto pensado e escrito para leigos, explicando aspectos ligados à constituição do psiquismo, sinais de risco de autismo e a função do psicanalista no trabalho de intervenção precoce.

- A metodologia psicanalítica no tratamento do autismo
Aborda as contribuições da psicanálise ao tratamento de pessoas com autismo; descreve os passos centrais na direção do tratamento do autismo e seus critérios diagnósticos; destaca a importância do brincar nessa clínica por meio dos jogos constituintes do sujeito, e aponta ainda para a importância da detecção, intervenção precoce e interdisciplinaridade no tratamento.

- A psicanálise no tratamento interdisciplinar do autismo
Neste texto procura-se historiar o tratamento interdisciplinar, mostrando como surgiu e em decorrência de que questões ele se impõe no tratamento do autismo, focalizando também a sua forma de funcionar nas diferentes instituições.

- Esclarecimento aos pais e familiares das pessoas com autismo sobre a especificidade do tratamento psicanalítico
O texto procura esclarecer de que modo a psicanálise contribui no tratamento de autistas e suas famílias, procurando dar elementos aos pais para melhor elegerem os dispositivos que considerem mais indicado para seu filho.

- Política e ética da psicanálise para o tratamento das psicoses: A subversão como resposta à segregação.
A proposta desse tema de trabalho é um posicionamento em relação a como compreendemos a articulação possível entre esses três termos. Dessa forma, o título de nosso trabalho aponta para uma localização da Psicanálise no campo da Política e da Ética, e uma localização do Autismo no campo das Psicoses.

Assim, foi se construindo no coletivo, além da organização e funcionamento do Movimento, esta grande produção de textos, com uma circulação virtual intensa dos trabalhos, pois questões de várias ordens iam surgindo e exigiam que estratégias e ações fossem pensadas e decididas por todos. Foi criado um blog do Movimento - http://psicanaliseautismoesaudepublica.wordpress.com/, onde foram “entrecruzados”, entre outros sites, o do Departamento de Psicanálise.

Para mostrar a dimensão do trabalho profícuo e efervescente de 400 profissionais, com 100 instituições participando do Movimento, foi disponibilizada no blog - feito para acolher tudo o que foi produzido pelo Movimento – uma parte dessa produção - Manifesto, Jornada e Textos da Jornada. Quanto aos desdobramentos depois da Jornada, o Movimento vai se deparando com grandes desafios e complexidades pois, na atualidade, os trabalhos com a subjetividade de orientação psicanalítica estão sendo desqualificados e desinvestidos nos setores públicos, que tem deixado de considerar as dimensões psicodinâmica e psicossocial dos sujeitos na assistência à Saúde Mental. E, o que é pior, vamos sabendo - aqui e ali - do uso de certas estratégias políticas - como aquela que deixou para lançar no I Congresso de CAPSi no Rio de Janeiro o documento Linha de Cuidado para a atenção integral às pessoas com transtorno do espectro do autismo e suas famílias no Sistema Único de Saúde - https://pt.scribd.com/doc/161650218/Linha-de-Cuidado-para-a-atencao-integral-as-pessoas-com-transtorno-do-espectro-do-autismo-SUS (que passou por consulta pública e no qual os autistas estavam na área da Saúde Mental) e lançou, no Dia Mundial do Autismo, 2 de abril, o documento que colocava os autistas na área da Reabilitação, portanto entendidos como deficientes...(Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo).

Para finalizar, concluímos que estamos no início de uma empreitada que ainda vai longe, já que as tarefas do MPASP e a abrangência deste Movimento ainda precisarão tanto ganhar mais visibilidade entre os profissionais das áreas da Saúde, Educação e outras disciplinas, quanto entre os meios midiáticos existentes, para que se possa resguardar a visão da psicanálise e garantir as ações dos psicanalistas nas instituições públicas - dependentes das políticas públicas - e nas particulares.


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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[2] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
[3] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.



 
 
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