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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    24 Abril 2013  
 
 
PSICANÁLISE E POLÍTICA

NOTÍCIAS SOBRE O CRIA-UNIFESP


BRUNO ESPÓSITO [1]


No início de dezembro/2012, a equipe do Centro de Referência da Infância e Adolescência (CRIA-UNIFESP) recebeu um comunicado da Secretaria Estadual de Saúde (SES-SP), garantindo a continuidade do convênio que possibilitava ao CRIA exercer suas atividades clínicas, de pesquisa e formação de diferentes profissionais da saúde.

A ameaça de fechamento mobilizou inúmeras instituições – dentre elas o SEDES –, que manifestaram-se de forma contrária e contundente, já que a interrupção colocava em xeque o vínculo com os pacientes e familiares, a história de um projeto construído cuidadosa e coletivamente, bem como um modelo assistencial complexo – sobretudo multidisciplinar e envolvido com o campo da subjetividade dos usuários e suas famílias.

Há de se destacar também a mobilização de muitos pacientes adolescentes e diversos familiares, que por iniciativa própria manifestaram-se pela permanência do CRIA em espaços públicos, instâncias políticas ou redes sociais; estas ações, de maneira interessante, trouxeram efeitos positivos sobre a vida e o tratamento dessa população.

A alegria com que recebemos a notícia da manutenção desse projeto veio acompanhada de muito trabalho: optamos por ofertar a todos aqueles que já haviam sido encaminhados a possibilidade de retomarem seus tratamentos; ao realizarmos esse contato, era patente a dificuldade que muitos familiares vinham tendo em encontrar serviços na rede pública ou mesmo privada que prestassem um cuidado similar. Já os que puderam ser acolhidos em novas instituições, abriram espaço para novos pacientes que não param de chegar – semanalmente estão estabelecidos dois “plantões de triagem”, onde uma clientela extensa e com demandas variadas acessa o nosso serviço.

Vale ressaltar que, com a turbulência que vivemos no final do ano, alguns profissionais acabaram saindo da instituição, mas ainda não temos previsão de reposição dessas vagas. Cabe a nós manter o trabalho intenso e torcer pelo reestabelecimento do quadro de profissionais o mais breve o possível!

No que tange à relação com a universidade, o CRIA tem participado ativamente na formação de diversos alunos, residentes e pós-graduandos de diferentes especialidades. Funcionamos como local de estágio onde eles realizam atividades clínicas, recebem supervisão e formação teórica. Neste primeiro semestre, estão conosco seis residentes em Psiquiatria Infantil, dez residentes em Psiquiatria Geral (2º ano), três residentes de especialização multiprofissional (Enfermagem, Psicologia, Assistência Social e Terapia Ocupacional), quatro especializandos em Psicoterapia e uma especializanda em Enfermagem.

Além dessas atividades de ensino, a equipe continua sendo responsável por disciplinas nos cursos de graduação da Medicina, Fonoaudiologia e Enfermagem, e tem participado de atividades de interconsultas psiquiátricas em alguns setores do Hospital São Paulo.

Embora tenhamos garantida a permanência do CRIA, sabemos do caminho longo a ser percorrido até que tenhamos uma saúde pública totalmente implicada com o campo da infância e juventude; mais do que isso, uma saúde que não simplifique a assistência a essa população através de serviços massificados, que tentam oferecer soluções “rápidas”, mas que podem ter efeitos nocivos a longo prazo como a medicalização ou a serialização das patologias em ambulatórios específicos.

Com a continuidade de nossas atividades e “livres de ameaça”, tivemos o prazer de reencontrarmo-nos com a nossa prática, mesmo com as dificuldades inerentes ao trabalho com a subjetividade – na sua dimensão mais afetiva – em um campo de transferências e sofrimentos múltiplos. Do mesmo modo, a mobilização política mais ampla demonstrou que, embora ainda sejamos minoria, existem outros serviços e instituições de formação muito implicados em propostas clínico-políticas similares às do CRIA, e a articulação cada vez maior parece ser um caminho de fortalecimento.

É portanto no trabalho clínico do dia a dia e através de nossa união nos âmbitos políticos maiores que pensamos construir uma assistência às nossas crianças, jovens e seus familiares que acolha-os em sua singularidade, eticamente responsável e utilizando-se de estratégias variadas para diminuir o sofrimento psíquico.


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[1] Bruno Espósito é psicólogo do CRIA e aluno do Curso de Psicanálise.



 
 
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