P. JERONYMO CARVALHO [1]
No final da tarde da última sexta-feira de outubro do corrente, juntaram-se
à Comissão de Admissão muitas e muitos colegas membros do Departamento de
Psicanálise, além de aspirantes a membro e outros convidados, para
assistirmos à apresentação pública do trabalho clínico que Miranda
desenvolveu como parte de seu processo de admissão a este Departamento,
através de sua Comissão de Admissão.
Como todos já sabem, a apresentação pública do caso clínico já é um ato que
marca o pertencimento de Miranda à nossa associação de psicanalistas. É o
primeiro movimento da nova membro no Departamento e por isso tantas colegas
e amigas presentes para ouvi-la e debater.
O trabalho apresentado chama-se O homem na gaiola, e refere-se ao
processo psicanalítico que parte do comprometimento do analisando em seu
desenvolvimento narcísico, no decorrer do qual se verificam situações
traumáticas não representadas, impossibilidade de manifestação externa da
agressividade e situações sociais e familiares marcadas por diferentes
formas de violências. Outro aspecto presente são as relações interraciais,
o racismo e seus efeitos intra e intersubjetivos.
Para além da recepção de uma nova membro ao seio do Departamento de
Psicanálise, essa tarde de outubro marcou um outro importante processo.
Miranda foi a primeira analista que pôde se beneficiar dos processos
instituídos no Departamento a fim de gerar efeitos de reparação do racismo
estrutural presente em nossa sociedade. A última Assembleia de membros,
reunida ao final do ano passado (2020), se comprometeu a construir e
aplicar políticas reparatórias e remeteu às suas partes, às suas
articulações internas, a construção e implementação dessas políticas. A
Comissão de Admissão, imbuída de tal tarefa, passou, desde o início desse
ano de 2021, a desenvolver a incumbência de transformar o fluxo do processo
de admissão: às candidatas auto-declaradas negras ou indígenas foi
reconhecida a prioridade no fluxo de espera entre o envio de seu pedido de
pertencimento e o desencadeamento de seu processo junto à Comissão de
Admissão. Normalmente leva-se pouco mais de um ano nessa espera.
Assim, junto com a chegada de Miranda, estivemos comemorando a efetiva
implementação de tal compromisso de nosso Departamento com a vanguarda do
espírito de nosso tempo!
E logo mais vem Anne Egídio. Bem-vindas!
São Paulo, primavera de 2021.
[1]
Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto
Sedes Sapientiae, professor no Curso de Psicanálise e integrante da
Comissão de Admissão.