PSICANÁLISE E GÊMEOS - NOTAS SOBRE O LUGAR DA GEMELARIDADE  NA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

 

Ada Morgenstern

Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae

 

 

Eixo temático – HISTÓRIA E CULTURA

 

RESUMO

 

Desde os primórdios da humanidade, os gêmeos ocupam um lugar na cena enigmática da origem e da condição humana. Podemos encontrar registros seja na Biblia, seja na mitologia grega, onde a questão da gemelaridade está presente. O mesmo se dá na literatura e nas artes em geral.

 

Apesar desse espaço ocupado na cultura, o mesmo não ocorre no campo psicanalítico. A reflexão sobre a complexidade da condição gemelar é escassa. Surge inicialmente numa posição periférica, através de uma nota de rodapé em Freud (1920) no artigo “Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina”, onde ele cita o caso de dois irmãos gêmeos, a propósito da complementariedade: um dos irmãos fazia muito sucesso com as mulheres e o outro havia “se retirado em benefício do primeiro”. Essa é a única menção de Freud à questão da gemelaridade.

 

Percorrendo uma trilha histórica à partir de Freud, encontramos alguns autores “pioneiros” nesse tema, como Heinz Hartmann, que tentou identificar, através do estudo sobre dez pares de gêmeos idênticos, o peso das influências ambientais na formação do caráter de gêmeos. Outra “pioneira”, Dorothy Burlingham, em seu artigo “Fantasy of having a twin” (Burlingham, 1945), descreve a fantasia de ter um irmão gêmeo. Presente em muitos sujeitos, tal fantasia se integra ao romance familiar e serve para compensar sentimentos de solidão. É uma fantasia de completude que nega a separação.

 

Além desses, encontramos pequenas menções ao tema em autores pós freudianos (Winnicott, Klein, Dolto, entre outros) testemunhando que esse lugar “periférico” no campo psicanalítico ainda se mantém.

 

Atualmente, a chegada de crianças e adolescentes gêmeos a consultórios de psicanalistas tem sido mais frequente, o que nos instiga a pesquisar e refletir sobre suas especificidades. Um reflexo disso é o surgimento de alguns autores que vêm se debruçando sobre o tema.

 

OBJETIVO - através de um levantamento bibliográfico, percorrer a história da gemelaridade - desde a nota de rodapé de Freud até os dias de hoje, buscando refletir sobre as proposições teóricas acerca da constituição da subjetividade que esse tema (e esses autores) vem colocando em questão.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: gemelaridade, história, constituição da subjetividade, duplo.

 

 

Ada Morgenstern é Psicanalista, Psicóloga e Mestre em Psicologia Social pelo IPUSP, Professora do curso de formação em Psicanálise com Criança do Instituto Sedes Sapientiae (SP), Professora do curso de especialização “Teoria Psicanalítica” no Cogeae-PUCSP.