É O GÊMEO UM IRMÃO? REFLEXÕES SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE AS RELAÇÕES FRATERNAS E AS RELAÇÕES GEMELARES

 

Adela Judith Stoppel de Gueller

Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae

 

 

Eixo temático – O TRABALHO DE REPRESENTAÇÃO

 

RESUMO

 

O desalojamento que tem lugar na chegada de um irmão e as perguntas que a criança formula a partir disso, não tem lugar quando o nascimento de duas crianças ocorre simultaneamente, o que tem sido cada vez mais frequente. Isso porque os gêmeos se constituem, inicialmente, como Um par indissociável.

 

Quando se trata de duas crianças únicas, ao chegar um irmão surgem o ódio, o ciúme e a inveja, afetos que põem o primogénito na difícil tarefa de representar simbolicamente as diferenças. O intruso suscita na criança uma série de questões sobre a perda do lugar de falo e sobre a pergunta pelo desejo do Outro, das quais surgem as teorias sexuais infantis, que são, de certo modo, respostas para driblar a castração. Se um irmão vai chegar, eu não completo o Outro, não sou o falo. O que sou para o Outro então? O que preenchia o desejo do Outro antes de minha chegada? O que aconteceria se eu não existisse? O recém chegado, sendo situado pela criança como causa desse desalojo é identificado imediatamente com a figura do rival. Nesse contexto, terá lugar a difícil tarefa de encontrar representação para as perguntas: ele é igual a mim? O que ele tem e eu não tenho?

 

Essas indagações fundamentais para a constituição subjetiva, não tem lugar inicialmente nos gêmeos, já que eles se percebem e se pensam como Um. A castração, operação que instaura a questão da diferença, pode então demorar para se fazer lugar ou não ocorrer nunca. A privação ou a frustração, pode vir a substitui-la. Por outro lado, nos gêmeos, os sentimentos de cooperação, complementariedade e solidariedade, afetos nos quais as diferenças são postas de lado, se constituem mais precocemente que entre os irmãos.

 

Se Freud, a partir de Totem e Tabu, propõe pensar na união fraterna como fundante da civilização, Lacan afirma que na origem da fraternidade encontramos a segregação. Podemos pensar então que os gêmeos, podem estabelecer relações diferentes às dos irmãos?

 

A partir de vinhetas clínicas e de exemplos extraídos literatura, propomos uma reflexão que nos permita pensar sobre outros modos de constituição da subjetividade, que não tomam como ponto de partida a diferença entre o Um e o Outro, que não se estruturam em torno da constituição de um eu singular.

 

PALAVRAS-CHAVE: função fraterna, gêmeos, indivíduo, segregação.

 

 

Adela Judith Stoppel de Gueller é psicanalista. Atual coordenadora do curso de formação em Psicanálise com crianças do ISS. Pós doutora em Psicanálise pela UERJ. Professora do curso de especialização em Teoria psicanalítica- COGEAE- PUC-SP.