AMIGO DA CRIANÇA? O INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO DIANTE DA MÃE QUE NÃO QUER/CONSEGUE AMAMENTAR

 

Fernanda Fernandes da Silva

USP (responsável pela apresentação)

 

Rebeca de Cássia Daneluci

USP

 

 

Eixo temático – A ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA: POLÍTICAS PÚBLICAS NO ATENDIMENTO À CRIANÇA.

 

 

RESUMO

 

Pretendemos discutir sobre os impasses nascidos no cruzamento entre uma política pública pensada para proteger a criança e o desejo da mulher que recebe ou se submete a tais cuidados. O selo “hospital amigo da criança” é conferido às instituições que se adéquam à política de incentivo ao aleitamento materno, porém, há que se questionar algumas peculiaridades no exercício de um cuidado que pode ferir a liberdade e o protagonismo materno, uma vez que tem em seu processo avaliador metas numéricas pré-estabelecidas que garantem a manutenção do selo e da verba a ele associada. Quais os efeitos desse “incentivo” diante do medo de amamentar presente de modo intenso e fantasmático no discurso de algumas gestantes? A importância do aleitamento materno para o desenvolvimento físico e psíquico do bebê, assim como para o favorecimento da vinculação da díade mãe-bebê é reconhecida e comprovada por pesquisas nas mais diversas áreas, no entanto, cabe à psicanálise propor uma discussão acerca do encontro singular entre um fantasma materno (medo de amamentar) e a equipe de saúde imbuída do discurso pró-amamentação. As primeiras mamadas teóricas, tal como definidas por Winnicott, compreendem um ponto fundamental para as bases do desenvolvimento emocional primitivo do bebê, entretanto, resta saber se a construção parental fundada num sentimento de inadequação (não quis ou não conseguiu amamentar) poderia atrapalhar os elementos que essa mãe oferece como antecipador do sujeito, tal como propõe Aulagnier. Neste contexto Dolto vai destacar a importância do clima sensorial e psicoafetivo da primeira alimentação. Esses autores salientam, para além dos benefícios nutricionais das primeiras mamadas, o ambiente, o desejo e os afetos presentes nesta experiência fundadora do sujeito que é a vivência de satisfação postulada por Freud.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: aleitamento-materno, desejo, fantasma, ambiente.

 

 

Fernanda Fernandes da Silva, Psicanalista, docente universitária e supervisora de estágio clínico. Doutoranda em Psicologia escolar e do desenvolvimento pelo Instituto de Psicologia da USP; mestre em Psicologia clínica e especialista em teoria psicanalítica pela PUC-SP.

 

 

Rebeca de Cássia Daneluci, Psicanalista, docente universitária e supervisora de estágio clínico. Doutora em Psicologia Social e mestre em Psicologia clínica pelo instituto de Psicologia da USP. Aprimoramento (PAP) em Psicologia clínica pelo HSPE.