“AGORA É MENINA!” – SEXUALIDADE E GÊNERO À LUZ DO DISMORFISMO GENITAL NA INFÂNCIA

 

Laura Miranda Canhada

 

 

Eixo temático – FORMAS DE EXPRESSÃO DO SOFRIMENTO NA INFÂNCIA – QUESTÕES DE GÊNERO

 

 

RESUMO

 

Qual a atualidade conceitual das contribuições freudianas sobre a sexualidade infantil, tal como foram propostas há mais de 110 anos, em seus ‘Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade’? O polimorfismo da sexualidade infantil extravasou muros científicos e promoveu uma descolagem da possível causalidade entre o sexual e o genital: há sexualidade para além das funções genitais e reprodutivas.

 

A partir de tais apontamentos, como podemos pensar a escolha de gênero para além da primazia biológica? De que forma se dá o processo de subjetivação e de identificação de gênero em uma criança que apresenta um dismorfismo genital?

 

As noções de masculino e feminino nos são apresentadas pelo discurso parental, por aquilo que outrem sustenta em seus ideais imaginários sobre o que é ser mulher ou homem. Tais noções também estão historicizadas em um tempo e um espaço, sendo produções sociais discursivas que sofrem influências e que podem ser modificadas ao longo da história.

 

A partir destes apontamentos, o presente trabalho pensará tais questões à luz das contribuições clínicas de Luiz/ Lúcia1, criança vinculada ao CRIA – Unifesp, atendida em dispositivo grupal (‘Grupo Lúdico’), juntamente com outras três crianças. Eu e um auxiliar de enfermagem coordenávamos o grupo.

 

Lúcia foi Luiz até seus 5 anos de idade. Nasceu menino pois o grande prolongamento de seu clitóris fez os médicos acreditarem se tratar de um menino. Porém, ao longo de seus 5 anos, exames clínicos aferiram que havia uma prevalência dos órgãos sexuais internos femininos. Luiz logo virou Lúcia: troca de nomes; inversão da filiação; substituição do azul para o rosa. Tão rápido demais o mundo de Lúcia se tornou o mundo das princesas.

 

* Os nomes foram modificados para preservar a identidade da paciente.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: Sexualidade Infantil; Escolha de Gênero; Identificação; Subjetividade.

 

 

Laura Miranda Canhada, Psicóloga clínica e psicanalista. Especialização em Psicopatologias da Linguagem (Derdic – SP), com ênfase na clínica interdisciplinar da saúde mental infantil. Apresenta experiência clínico-institucional no âmbito da rede pública (CAPSi).

 

Instituição: Centro de Referência da Infância e Adolescência - CRIA UNIFESP – Programa: Transtornos Graves do Desenvolvimento (Coordenação: Marizilda Pugliesi).