A ESCUTA DO MAL-ESTAR NA PARENTALIDADE

 

Alessandra Cassia Leite Barbieri

 

 

Eixo temático – A ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA

 

RESUMO

 

A proposta aqui é problematizar questões que identifico no atendimento grupal de pais cujos filhos estão em psicoterapia, trabalho que realizo há mais de dez anos na Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae. Minha tese é de que esse espaço tem se mostrado bastante efetivo no acolhimento do sofrimento parental e proporcionado importantes movimentações psíquicas nos membros de uma mesma família.

 

Nesse dispositivo, destaco fundamentalmente os constantes discursos de desamparo e de angústia dos participantes. Outra característica tem sido a crescente presença dos avós como aqueles responsáveis pela criança (os pais encontram-se impossibilitados de exercer a parentalidade por diversos motivos), o que me faz pensar que o correto seria chamar esse dispositivo de grupo de escuta à família, no qual tem se descortinado não somente uma, mas diversas configurações familiares que se mobilizam em torno da criança.

 

O trabalho ali realizado oscila entre o singular de cada família e o universal da parentalidade, em um espaço no qual esses participantes podem construir um ambiente favorável para não somente compreender melhor qual a posição que a criança ocupa na estrutura familiar, como também promover um descongelamento de posições da parentalidade, propiciando a esses atores experimentarem novos posicionamentos como pais, mães, responsáveis pelos cuidados e pela “narcizisação” de suas crianças.

 

Outra característica desse trabalho é que o analista que realiza os encontros com os pais não é o mesmo que se encarrega das crianças: há um analista “especialista” em pais, uma espécie de “guardião” do espaço de escuta às questões parentais, trazendo contornos ao laço transferencial um tanto diferentes daqueles com os quais nos deparamos no tratamento tradicional de crianças, no qual o analista da criança recebe os pais do paciente somente quando for necessário. Minha percepção é de que essa divisão traz um efeito de suavização das culpas e das demandas parentais, que relativiza a “carapaça resistencial” e promove maior apropriação dos pais com relação àquilo que se diz no espaço terapêutico.

 

Por fim, apostamos também (a instituição aí compreendida) que, para as crianças, o fato de saberem que seus pais também estão “trabalhando” enquanto elas cumprem sua parte, operando seus conteúdos em suas respectivas “psicoterapias” (termo a ser problematizado), facilita o descolamento de um lugar de espelhamento com seus pais ao redor de seu sintoma, de um lugar de objeto, no qual a maioria delas se encontra de maneira muito incrustada ainda, e sofrendo por isso.

 

PALAVRAS-CHAVE: sofrimento na parentalidade; grupo de pais; psicanálise de pais; avós.

 

 

Alessandra Cassia Leite Barbieri, psicóloga (PUC-SP), psicanalista, membro do Departamento Psicanálise com Crianças do ISS, psicoterapeuta do Projeto de Atenção à Infância da Clínica Psicológica do ISS.