UM EIXO PARA A CLÍNICA ANALÍTICA COM CRIANÇAS, NOS DIVERSOS CONTEXTOS EM QUE ELA SE DÁ

 

Lia Pitliuk

Depto. de Psicanálise com Crianças e Depto. de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

 

 

Eixo temático – O TRABALHO DE REPRESENTAÇÃO

 

 

RESUMO

 

Por diversas vias, e como efeito de múltiplos fatores, o mundo contemporâneo vem, progressivamente, limitando a experiência de ser das crianças: o lugar de “agente” vem sendo substituído pelo de “consumidor”, a movimentação e o tempo livre e inventivo vêm sendo substituídos pelo controle minucioso e limitação de cada passo e minuto, as tecnologias audiovisuais e digitais, assim como as medicações psicotrópicas, vêm sendo propostas e utilizadas, cada vez mais, como os meios preponderantes de tranquilização, etc. Trata-se de um quadro muito preocupante porque a restrição do campo de experiências tem como efeito necessário danos graves à constituição subjetiva, e não é à toa que a psicanálise contemporânea vem se dedicando tanto às falhas de simbolização – assunto dos mais recorrentes em nossa clínica, em nossas teorizações e em nossos debates.

 

Em paralelo, estamos também vivendo grandes transformações – e ampliações - dos enquadres com que os analistas trabalham com crianças: os serviços de saúde, mental ou geral; os abrigos, as instituições educacionais, as instituições jurídicas, a rua. Somos convocados, com cada vez mais frequência, a opinar e a participar de debates multiprofissionais relacionados a questões específicas como as intervenções precoces ligadas à transgeneridade, à adoção, à obesidade infantil, à perinatalidade, etc, etc, etc.

 

Em meio à singularidade de cada contexto e de cada situação, existem algumas constantes que marcam a clínica analítica. A proposta desta apresentação é focar uma delas, tão destacada, já a partir de Winnicott: o trabalho em prol de permitir/propiciar que as crianças tenham experiências próprias – algo tão óbvio para se dizer, e cada vez mais difícil de sustentar.

 

 

Lia Pitliuk, Psicóloga e psicanalista na clínica individual, de casais e de família; supervisora clínica; professora de cursos regulares e coordenadora de grupos de estudo sobre teoria e clínica psicanalítica (principalmente obras de Freud e de Winnicott).