GRUPOS TERAPÊUTICOS DE PAIS E CRIANÇAS PEQUENAS: UM DISPOSITIVO DE TRATAMENTO INSTITUCIONAL COM FUNÇÃO TRANSICIONAL

 

Maria Eugênia Pesaro

Lugar de Vida

 

 

Eixo temático – ESCUTA PSICANALÍTICA NA CLÍNICA AMPLIADA – O SOFRIMENTO DA CRIANÇA E O TRABALHO EM INSTITUIÇÕES

 

 

RESUMO

 

Pretende-se apresentar a fundamentação teórica, a especificidade clínica e os efeitos de um dispositivo de tratamento do Lugar de Vida, Centro de Educação Terapêutica, denominado “grupo de pais e de crianças pequenas” que se insere no eixo temático a escuta psicanalítica na clínica ampliada - o sofrimento da criança e o trabalho em instituições. A construção deste dispositivo clínico se fez necessária no momento em que nos deparamos na clínica com crianças pequenas que apresentavam uma colagem ao corpo materno, em paralelo à pouca capacidade de significar a separação por parte das mães. A partir deste dado clínico e ancorados nos grupos pais-crianças propostos por Françoise Dolto nas Maison Vertes, no espaço transicional de Winnicott e na leitura lacaniana do cruzamento de diferentes posições discursivas com diferentes posições subjetivas foi proposto um “alargamento” das bordas dos grupos. A partir de cenas clínicas, sustentaremos que o principal desses momentos de encontro entre pais e crianças é a encenação dos movimentos de alternância presença-ausência parentais, uma vez que encontramos, no início do tratamento, laços entre pais e filhos em que o jogo da alternância presença-ausência não produziu os efeitos de subjetivação esperados. Ao introduzir os pais de crianças pequenas nos grupos terapêuticos, acolhemos seu mal-estar enquanto pais num espaço capaz de colocar em movimento o saber de cada pai em relação aos cuidados e à educação de seus filhos. Concomitantemente, o grupo tem a função de garantir, para as crianças pequenas que chegam ao tratamento porque apresentam um sintoma que produz um obstáculo à sua constituição enquanto sujeito, um lugar de espelho transicional que ocorre quando as crianças são convocadas, mutualmente, para brincar, sustentando o aspecto criativo do jogo rudimentar no qual a criança cria e é criado na imagem do outro para se tornar criança. As brincadeiras criativas das crianças têm a função de abrir o campo da linguagem própria de cada sujeito.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: constituição psíquica; Educação Terapêutica; grupos terapêuticos; transitivismo.

 

 

Maria Eugênia Pesaro, Psicóloga; Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP; Sócia membro da equipe do Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica.