AQUISIÇÃO DE FALA NOS CENÁRIOS VIRTUAIS

 

Ana Clélia de Oliveira Rocha
Clínica Interdisciplinar Prof. Dr. Mauro Spinelli

 

 

Eixo temático – CLÍNICA DA PRIMEIRA INFÂNCIA

 

RESUMO

 

Verão, praia, céu e mar se confundem num azul de tirar o fôlego: na beira do mar, um carrinho com um bebê olhando fixamente para a tela do seu Ipad.

 

Ao ver esta cena dias seguidos nas minhas férias comecei a ficar incomodada e a vontade era falar com os pais para tirar aquela criança dali para que ela pudesse olhar o cenário que eles, tranquilamente, desfrutavam...Imagem que permanece na minha memória..

 

Consultório: recebo uma mãe com seu pequeno filho que “não fala” para a primeira consulta. Sentam no chão: o corpo da mãe apóia o do filho por trás, a mãe segura um Ipad com uma mão e na outra seu celular, ambos ligados num filminho...” é doutora para ele não chorar, ta acostumado”. Este pequeno menino – 2 anos e 6 meses- não consegue sentar-se sem apoio pois está “acostumado” ao sofá da casa, vendo os Ipads, Iphones nesta posição.

 

Duas cenas que dialogam: o menino da praia cresceu!

 

Se pensarmos como uma criança apropria-se da fala - quantas operações delicadas, repetidas, entram neste diálogo sem palavras entre o pequeno e o outro, com gestos, brincadeiras sonoras, olhares trocados, toques...momento no qual o corpo coloca-se em cena para que a palavra possa vir -como esta é, então, constituída nestes novos tempos das babás digitais, do outro virtual??? Pergunta que se impõe à clínica fonoaudiológica com as crianças que não falam.

 

Trago uma terceira cena: um pai juntamente com sua filhinha de 1ano liga para a avó pelo skype e ela começa a brincar sonoramente com a menina cantando as músicas que tantas vezes embalou seus filhos e os filhos dos seus filhos; a criança sorri para a câmera, hiptonizada/capturada pela imagem da avó. O pai adormece e as duas permanecem nesta cena. O pai, por inúmeras vezes, recorreu a esta avó que morava em outro país para cuidar / entreter a filha enquanto ele descansava.

 

A terceira criança falava com a avó: aqui podemos pensar que a tecnologia, enfim, tem seus valores pois, permitia que alguma relação muito especial fosse se estabelecendo entre as duas mesmo que separadas por um oceano... Cena que resgata a condição essencial para a fala: o desejo.

 

Este trabalho pretende, assim, pensar as novas cenas do cotidiano de uma criança em aquisição de linguagem e suas vicissitudes na era digital.

 

PALAVRAS-CHAVE: aquisição, linguagem, clínica e virtualidade.

 

 

Ana Clélia de Oliveira Rocha, Fonoaudióloga, Pós doutora em Fonoaudiologia pela PUC/SP, Doutora em Linguística pela UNICAMP, profa.do curso do curso de extensão do Sedes O falar da criança, membro da equipe Interdisciplinar Prof Dr. Mauro Spinelli.