COMO A PSICANÁLISE PODE CONTRIBUIR NO TRATAMENTO DE UMA CRIANÇA COM ALERGIA CRÔNICA

 

 

Carisa Almeida Bradaschia

Membro do departamento de Psicanálise com Crianças, do Instituto Sedes Sapientiae

 

 

Eixo temático – PSICOSSOMÁTICA

 

 

RESUMO

 

Recentemente houve um aumento no interesse de estudos sobre psicossomática dentro do campo psicanalítico, apenas desde 2016 sete artigos foram publicados no International Journal of Psychoanalysis. Por outro lado, embora a conexão entre corpo e mente se mostre mais clara durante a infância, há poucos estudos dentro da psicanálise que abordam o tema de psicossomática e infância. Neste sentido, este trabalho pretende contribuir com o debate de como um tratamento psicanalítico pode auxiliar em casos em que uma criança tem um adoecimento orgânico. Para tanto, o trabalho vai se apoiar no recorte clínico do tratamento de uma criança de cinco anos que apresentava desde muito pequena uma alergia cutânea muito severa.

 

Esta criança, ao início do tratamento, tinha reações alérgicas pelo corpo todo, suas unhas eram cortadas bem curtas para que não se machucasse de tanto se coçar, mas, mesmo assim, tinha feridas nos braços, nas costas, barriga, nos pés e nas pernas. Outros aspectos que vale notar são: baixíssimo rendimento escolar, as outras crianças evitavam sua presença nas brincadeiras, fisionomia confusa e dispersa, dificuldade de brincar, fala desorganizada e aparentemente sem sentido, dificuldade de perceber ou comunicar suas emoções, os desconfortos eram imediatamente comunicados como dores orgânicas.

 

Para Marty & M´Uzan (1963) estruturas deficitárias de mentalização descarregam os excessos de excitação psíquica em atos ou no campo somático, de modo a não ter significado simbólico. Para Sloate (apud Gubb, 2013) cisões no ego destes pacientes deixariam áreas com conflitos não resolvidos e afetos não processados, especialmente aqueles relacionados a separação e individuação. O presente estudo vai abordar como isto apareceu no material clínico.

 

Situado dentro do eixo de formas de expressão do sofrimento na infância, este trabalho pretende contribuir com a discussão sobre psicossomática ao abordar a evolução no brincar desta criança, as fantasias que apareceram ao longo do tratamento e a melhora no sofrimento somático que acompanhou a ampliação da capacidade de mentalização, de simbolização e de elaboração da dor psíquica.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: psicossomática, psicanálise, alergia, simbolização, brincar

 

Carisa Almeida Bradaschia, Psicanalista, membro do departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae, palestrante e membro da rede de atendimento do Centro de Estudos Psicanalíticos.