III Colóquio Psicanálise com Crianças
outubro de 2014

Será que já virou uma tradição? De tempos em tempos, o Departamento realiza um evento de fôlego, convocando os psicanalistas que trabalham com crianças a mostrarem o que têm feito e o que têm pensado em suas clínicas, apresentando-se no Colóquio de Psicanálise com Crianças, no Instituto. Em outubro último, aconteceu a terceira edição desse evento. Foram dois dias de intensa troca psicanalítica, nos quais presenciamos uma mostra interessante da produtividade do campo.

Na sua primeira versão, em 2009, esse evento apoiou-se no centenário da obra freudiana “Análise de uma fobia de um menino de cinco anos”, para trazer ao Sedes os trabalhos teórico-clínicos de 62 analistas de crianças; na segunda edição, em 2012, o aniversário de cem anos do texto de Freud “A Dinâmica da Transferência” foi o mote inspirador para 54 apresentações de colegas de todo o país. E no ano passado, em sua terceira edição, o Colóquio de Psicanálise com Crianças, sob o título “Onde está o Pai? Desafios da atualidade na clínica com crianças”, não estava referido a textos princeps da psicanálise, mas podíamos ouvir ecos das temáticas antropológicas e sociológicas de Freud, encontradas em textos do gênero de “Totem e Tabu” e “Psicologia das Massas e Análise do Eu”.

Não à toa, muitas das 50 apresentações espelharam temas bastante recorrentes na nossa cultura pós-moderna: a medicalização da infância, a adoção homoparental, a alienação parental, a clínica realizada fora do consultório tradicional, o abuso sexual na infância.
Ao indagar sobre o lugar do Pai nas novas dinâmicas de estrutura familiar e nas possíveis novas formas de subjetivação, esse colóquio atualiza questionamentos que a comunidade psicanalítica já vem fazendo há algumas décadas, a partir das revoluções de paradigmas na contemporaneidade. E dá o recado de que a Psicanálise escava o passado, mas também abastece-se dos ares do seu tempo presente e precisa sempre perguntar-se a respeito desse aqui e agora para seguir viva.

O evento foi pautado por três eixos, cada qual responsável por interrogar um determinado espaço que muito nos interessa como psicanalistas: eixo cultura e história, do qual participaram Marion Minerbo e Ricardo Goldenberg; eixo clínica psicanalítica com crianças, com as apresentações de Ada Morgenstern e Julieta Jerusalinsky; e eixo transferência – extensões da clínica, com as falas de Clarissa Metzger, Flavia Maria de Vasconcellos e Flavio Frassetto.

Para que nosso leitor possa rever ou aproximar-se da riqueza dos temas e das abordagens que passaram pelo evento, disponibilizamos aqui o site do Colóquio, que traz os resumos de todas as apresentações e os textos na íntegra de 4 palestras e de 33 trabalhos.

Lembramos que o setor eventos está sempre aberto a receber sugestões de temas, de nomes de palestrantes e de estilos de eventos que possam ser realizados pelo Departamento. Envie sua sugestão para Julia Eid, coordenadora do setor: juliageid@gmail.com

Por fim, sugiro a leitura do livro “O Mal-Estar na Subjetivação”, de Jean-Pierre Lebrun, muito cara ao tema tratado. O autor sublinha que o patriarcado – “o lugar do pai na vida de nossas sociedades ocidentais como se apoiando no lugar reconhecido à transcendência” – está reconhecidamente em declínio, e que ele não pode ser confundido com a função paterna. Eles interagem sim, mas são independentes, ao mesmo tempo. A função paterna, lembra ele, não é o papel do pai, mas “o lugar que um qualquer ocupe para a mãe e a criança, que estruturalmente permita que se instale no aparelho psíquico a capacidade de substituição significante, ou seja, a competência metafórica. Como podemos constatar, a função paterna, nesse sentido, é equivalente à função da própria linguagem.”

Alessandra Barbieri

“O Mal-Estar na Subjetivação”, de Jean-Pierre Lebrun, da CMC Editora, ano de 2010, Porto Alegre.
mesma obra, p. 14
mesma obra, p. 18

Fotos do Evento

Marion Minerbo, Ada Morgenstern e Ricardo Goldenberg

Público participa das palestras.

Clarissa Metzger e Flavia Blay Levisky.

Flavio Frasseto e Flavia Vasconcelos.

Veja aqui o folder de divulgação do Colóquio.