Apresentação
 

Fundamentação

O Colóquio 100 anos de Psicanálise com Crianças comemora o centenário da publicação de “Análise da fobia de um menino de 5 anos” – o caso Hans, relato da primeira cura psicanalítica empreendida com uma criança.

Sabemos a importância que este atendimento teve para comprovar hipóteses importantes da teoria psicanalítica nascente, dentre elas a sexualidade infantil, a criança perverso polimorfa, as teorias sexuais infantis e o complexo de Édipo entre outros. Além disso, até o momento anterior à publicação, Freud considerava improvável a aplicabilidade de terapia analítica às crianças, duvidava de sua maturidade e de sua capacidade de compreensão. Mas, mesmo receoso, Freud apoiou o empreendimento por parte do pai de Hans da cura de seu filho. No entanto empreender um tratamento psicanalítico na infância implicava conseqüências desconhecidas. Tornar-se-ia uma criança analisada perversa?

Os temores de Freud sobre as conseqüências do levantamento do recalque em um sujeito que estava ainda em vias de constituição só se dissiparam após a sua conversa com Hans em 1922, um jovem de 19 anos. A análise tinha caído sob os efeitos da amnésia infantil. Essa constatação abriu definitivamente as portas de uma clínica que ele mesmo passou a profetizar como o campo que oferecia o futuro mais promissor para a psicanálise. E só um ano depois do encontro de Freud com o jovem Hans, Melanie Klein e Anna Freud publicam seus primeiros trabalhos.

“Bravo, pequeno Hans! Não desejaria para os adultos uma compreensão melhor da psicanálise”. Com estas palavras Freud festeja a sagacidade e capacidade de dedução do pequeno, e o situa, ao mesmo tempo, como um sujeito, que consegue se engajar em um processo de investigação sobre as próprias determinações psíquicas tal como considerava desejável que os adultos o fizessem.

Por esse motivo podemos festejar, nós também a publicação do texto “Análise da fobia de um menino de 5 anos” já que ele tornou possível inaugurar uma clinica. E a criança tornou-se, a partir de então, um lugar central a partir do qual surgiram questionamentos, tanto da teoria quanto da técnica psicanalítica, gerando giros conceituais importantes e dando origem, inclusive, a formação de escolas dentro da psicanálise. Nesse sentido, a criança foi e continua sendo promotora de uma vasta produção clínica, metapsicológica e psicopatológica, indissoluvelmente ligada a sua história.

Um século depois, é fundamental perguntar-nos: de que forma a psicanálise com crianças conversa, revê, desdobra e recoloca questões que remetem a seus próprios fundamentos e que se encontram já presentes neste texto inaugural? Que respostas fomos encontrando para as inúmeras questões abertas por esta clínica?

Nossa intenção é promover uma reflexão sobre o estado atual de nossos conhecimentos sobre a criança a partir da psicanálise, assim como sobre os avanços e impasses que alcançamos neste primeiro século de existência.

É, pois, por considerar a publicação de “Análise da fobia de um menino de 5 anos” um verdadeiro acontecimento, isto é, um momento de ruptura entre o antes e o depois, que deu nascimento a prática clínica com a qual nos ocupamos, que propomos um lugar e tempo de encontro com colegas de diferentes escolas que desejem debater, pensar e refletir conjuntamente.