Trabalhos
 

 

Resumo

A CRIANÇA NO ABRIGO: O LUGAR DO EDUCADOR NA CONSTITUIÇÃO DESTE SUJEITO

Autores:

Cristina Almeida de Souza
Psicanalista pelo Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e membro deste mesmo departamento; psicóloga (FFCL  Sedes Sapientiae ), com mestrado em Psicologia Social (PUC-SP); membro do Grupo Acesso da Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae

Lia Lima Telles Rudge

Psicanalista pelo Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae; membro deste mesmo departamento; psicóloga (IPUSP), membro do Grupo Acesso.

Sandra S. Grama Ungaretti

Psicanalista pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; psicóloga (PUC-SP), membro do Grupo Acesso

Sandro Aparecido de Andrade

Psicanalista pelo Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapentiae; mesmo deste mesmo departamento; psicólogo (U.S.J.T-SP), especialização em Psicanálise e Linguagem (PUC- SP), membro do Grupo Acesso.

Nosso trabalho no Grupo Acesso Estudo, Intervenções e Pesquisa sobre Adoção está voltado para crianças e adolescentes já adotados ou em situação de abrigamento, para suas famílias de origem também afetadas pela separação de sua prole e para pais ou candidatos à adoção, muitas vezes impossibilitados de uma gestação biológica. Na prática clínica com a questão da adoção somos continuamente desafiados a articular o referencial psicanalítico e, portanto, a questão do sujeito e do inconsciente, às dimensões sociais, econômicas e políticas que perpassam um tema de grande amplitude e complexidade. Trata-se de situações de extrema delicadeza, que remetem ao desamparo constitutivo de todos nós, incidindo sobre todos os sujeitos envolvidos, inclusive os profissionais responsáveis pelo atendimento.

Do trabalho realizado com esses diversos atores, especialmente a partir dos atendimentos em análise das crianças que vivem em abrigos, pudemos constatar que um dos pontos críticos a serem tratados dizia respeito às dificuldades dos profissionais dos abrigos em responder, como educadores, às complexidades inerentes ao trabalho do e no abrigo. Crianças e adolescentes que chegam aos abrigos trazem, necessariamente, histórias de vida dolorosas, marcadas por rupturas bruscas e precoces nos laços primordiais. Enquanto psicanalistas, entendemos que estas marcas não podem ser tomadas como dados e informações que falam por si, mas sim como traços, como enigmas para os quais o sujeito deve dar um sentido próprio e singular. Pensamos que os profissionais de abrigos, quando conseguem considerar estas marcas como enigmas, favorecem a estas crianças e adolescentes dar um sentido próprio e com menor sofrimento psíquico para estes traços.

Tendo em vista tais ponderações, foi definida mais uma linha de ação do Grupo Acesso - intervenção com profissionais de abrigo  que tem como objetivo primordial levá-los a se perguntar sobre o seu lugar na constituição dos sujeitos com que trabalham (crianças e adolescentes). Nosso pressuposto é que os profissionais de abrigo tornam-se referências identificatórias fundamentais através das quais as histórias de cada um destes sujeitos podem ser re-significadas ou reafirmadas. Nossa proposta de intervenção configura-se em torno da discussão de casos. A partir das falas dos educadores de abrigo, buscamos pensar com eles o lugar em que se colocam perante as crianças que interrogam, o lugar em que as colocam e os efeitos destes lugares na constituição destes sujeitos. Nessa apresentação tomaremos em análise algumas destas falas para pensá-las numa perspectiva psicanalítica, que tem como eixo os conceitos de identificação e de sujeito.