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Resumo

A VISCERALIDADE DA CLINICA, REFLEXÕES

Autora: Eliane Berger

Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; Professora do curso Conflito e Sintoma do Departamento de Psicanálise do Sedes; Supervisora clínica do curso Conflito e Sintoma.

Meu objetivo nesse trabalho é ir fazendo aparecer, a partir de casos clínicos, o complexo tramado do inconsciente de pais e filhos na construção dos sintomas infantis.

O que um analista que observa essa articulação tem a dizer-fazer na clinica com crianças?

É a partir dos fragmentos de casos, que no texto, as possibilidades de intervenção vão se delineando.

Quando incluir os pais no trabalho com a criança? Quando não incluir? Por que?

A transferência vai abrindo os caminhos...

São camadas de história...essas com as quais nos encontramos... camadas de pele, músculos, simbolizações, lacunas...Encontros e desencontros que estruturam o sujeito desejante.

-----Casos clínico

Começarei com Freud e sua historia com Hans e os pais de Hans. Nos seus conselhos a esses pais, simpatizantes da psicanálise, Freud se encontra com a emergência das lacunas da elaboração edípica destes. Elas não estavam em seu programa, mas Hans as escutava.Construiu seus conflitos e posteriores sintomas a partir de sua forma singular de escuta-percepção dessas lacunas.

Falarei então de Livia, menina de 7 anos que chega encolhida,com medo de tudo e ávida por falar. Seus sintomas: enurese, tricotilomania e Livia não conseguia dormir sozinha.Há anos os pais se revezavam dormindo em seu quarto, cada noite um. Olhando vejo um trio de irmãos assustados com a vida e com a morte...trio de irmãos.

Veremos aqui os efeitos do desaparecimento do casal parental. O trabalho com os pais de Livia nas entrevistas preliminares, a sequência com Livia e sua mãe Selma, as sessões individuais com Livia e com Selma separadamente, a função das elaborações conjuntas e da separação como estratégias de produção de sentidos e mudanças.

Bruno, 5 anos chega a analise por indicação da escola. Bruno esta muito agressivo, vive arranjando  encrencas com os colegas, quer mandar, mandar e mandar, quando não consegue tem explosões de ódio e angustia. O casal sabe que Bruno esta infeliz, mas não conseguem ajudá-lo. Observo o casal a minha frente, duas figuras muito diferentes entre si. Giovani 15 anos mais velho que Carla, ele no seu 3° casamento, ela educadora jovem e vivaz, os dois exaustos. Falam de Bruno como uma criança inteligente e tirânica. Esta se tornando incontrolável... , eles já não têm forças.

Aqui faremos aparecer as circunstancias facilitadoras pra construção desse tirano que exaure os adultos e como as estratégias de trabalho analítico foram possibilitando mudanças de lugar.

Silvia, de quase 7 anos não consegue apreender os números, não sabe se seu aniversario é no dia 2 com 7 ou 7 com 2 . Além disso, vai dormir na cama dos pais e isso ela quer mudar. Seu pai insone e multi ocupado durante o dia, sempre adorou se encontrar com ela de madrugada, desde bebê. Silvia, em sessão, confecciona novas roupas para suas bonecas de pano, a cada mudança vai a sala de espera mostrar a mãe seu feito. Sua mãe, num dado momento, diz lá do seu lugar:  Nossa é mudança pra família toda! Escuto os caminhos de fala se abrirem, ela deu a interpretação é mudança pra família toda. Como analista escolho uma estratégia de intervenção a partir daí. Mas poderiam ser varias as formas de intervir. O que me empurrou em minha escolha...

------Parte final

Se ainda couber nessa apresentação de trabalho, farei algumas considerações finais sobre os fios que tramam os sintomas neuróticos na criança.