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Resumo

O BRINCAR: A ALUCINAÇÃO E O SONHAR NA RELAÇÃO ANALÍTICA

Autora: Elsa Vera Kunze Post Susemihl

Psicanalista, Membro do Departamento Psicanálise da Criança, professora do curso de especialização e de extensão do departamento de Psicanálise da Criança, Membro Associado da SBPSP

A partir da observação do brincar de crianças na sala de ludo, tento discriminar as sutis diferenças, apontadas por Winnicott, existentes nesta atividade e refletir basicamente a respeito de dois tipos de atividades mentais que podem estar subjacentes a estas diferenças, na verdade a qualquer atividade humana, baseando-me para tanto em algumas proposições de Bion. A primeira atividade estaria ligada a um funcionamento da parte psicótica da personalidade tendo por base o mecanismo de defesa de cisão e características alucinatórias, que se mostram em grande parte inúteis para a vida imaginativa e para a vida mesmo. Seu modelo seria os sonhos alucinatórios de realização de desejo, os sonhos infantis descritos por Freud. A outra atividade psíquica subjacente ao brincar estaria ligada a um funcionamento da parte neurótica da personalidade, ao mecanismo de defesa do recalque, ao trabalho onírico e ou de função-alfa e que propicia maior contato com os conteúdos do mundo interno e externo, sem necessidade de evasão da dor e propiciando recursos para lidar com a realidade interna e externa, promovendo assim o sonhar e o viver. Ambas os processos fazem parte do funcionamento normal e estão em constante oscilação, sendo ressaltada aqui a importância da discriminação entre os dois e da verificação da predominância no momento do trabalho psicoterapêutico com crianças.