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Resumo

REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE O ATENDIMENTO DE UMA CRIANÇA COM IMPORTANTE INIBIÇÃO NA APRENDIZAGEM

Autora: Luciana Slaviero Pinheiro

Psicóloga pela PUC-SP. Aprimoramento em Psicoterapia Psicanalítica dos Distúrbios Precoces na Relação Mãe-Bebê pela PUC-SP. Diploma em psicologia pela  London Guildhall University  Inglaterra. Administradora de Empresas pela FGV-SP. Atualmente cursando o 3º ano da Especialização em Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae.

Este trabalho, a ser apresentado no  Colóquio 100 Anos De Psicanálise Com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae, será uma oportunidade de articulação entre teoria e clínica através da discussão e reflexão de um caso clínico: uma menina de oito anos com importantes inibições no aprendizado, especialmente no desenvolvimento da linguagem escrita.

Esta criança cursa o 4º ano (antiga 3ª série), do ensino fundamental de uma escola pública e ainda encontra-se no período pré-silábico, sendo incapaz de escrever uma palavra corretamente, além de seu próprio nome.

A questão das inibições surge muito forte nas primeiras entrevistas quando, a qualquer pergunta minha, a paciente esconde seu rosto, encolhe seu corpo e começa a chorar. Parece paralisar diante do outro.

Aos poucos, durante as sessões comigo, a inibição vai dando lugar a uma falta de contenção de flatos, eructações, risos e demandas. Nas brincadeiras, ao mesmo tempo em que existe uma preocupação em não se sujar devido ao medo de lavar bronca da mãe, surge, em oposição, um forte desejo em fazer muita sujeira. Sujeira com as tintas, com os cheiros, com as palavras. O faz de conta se mistura com a realidade e sou colocada o tempo todo no lugar de quem deve obedecer a diferentes ordens.

No contato com sua mãe, encontro dificuldade em aprofundar determinadas questões. Parece um contato com o vazio... uma ausência de contato. Ou um contato sem afeto, que se limita à discrição dos fatos. Tudo parece ficar na superficialidade. Já o contato da mãe com a filha é permeado pelo apontamento do que é errado, deficiente, inadequado e proibido.

Compreendo que esta criança foi gerada num ambiente de muita tensão entre sua mãe e seu pai alcoolista e, segundo o discurso materno, sua concepção não foi planejada. O pai ausente se faz presente em todas as sessões com a mãe através da descrição de momentos de muita violência devido ao seu alcoolismo. Qual seria o lugar ocupado por esta criança nesta dinâmica familiar?

Mais do que encontrar respostas tenho buscado formular perguntas e manter uma escuta diferenciada para que seja possível me aproximar da complexidade do psiquismo desta paciente e tornar o trabalho analítico possível.