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Resumo

O NASCIMENTO DE UMA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ANÁLISE DE UMA CRIANÇA

Autor: Luis Henrique de Oliveira Daló (Instituto de Psicologia da USP)

Psicólogo Clínico formado pela USP-SP; Mestrando em Desenvolvimento Humano e Saúde pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano  do Instituto de Psicologia da USP; Membro do CETEC (Centro de Estudos da Teoria dos Campos); Membro Fundador da Gesto - Rede Psicanalítica

Este trabalho realiza algumas reflexões acerca do processo psicanalítico de um menino de 7 anos, R., e tem como foco a dissolução de um sintoma familiar inter-geracional. As queixas que recaíam sobre o paciente  seus comportamentos anti-sociais na escola ou a fala mal desenvolvida  ficaram em suspenso, surgindo como sintoma analítico uma situação familiar na qual os pais de R. não eram autorizados pelos seus próprios pais a ocuparem seus respectivos lugares em relação ao filho. Na fala da mãe se fez presente um ambiente familiar violento e caótico, onde ela lutou para nascer como mãe e, sem êxito, concebeu a idéia de que seria melhor que seu filho não nascesse, pois somente dentro dela ele estaria protegido de tal ambiente. A análise possibilitou uma regressão a esse lugar originário: o setting foi vivido como um ambiente intra-uterino para R., a partir de onde se ensaiaram seus nascimentos possíveis. A resistência a nascer esbarrava em uma transposição da violência de fora do útero para dentro, pois o interior da mãe, inicialmente protetor, era experimentado posteriormente como venenoso: o risco de morte estaria em não nascer. Através da sustentação de um lugar do pai dentro da mãe, o nascimento tornou-se possível, pois o lugar paterno, ao mesmo tempo em que forçava a saída de R., cuidava de dar suporte e contorno para uma experiência no mundo, agora não mais absolutamente violento e caótico, mas passível de ser explorado e descoberto. A elaboração analítica, nesse sentido, pôde romper com o ponto de vista imposto à mãe, e que era igualmente imposto a R., de que sair para o mundo seria destruidor. Tal ruptura, abertura de desejo, implicou em um  desocupar a mãe . A visão dos pais como casal fértil era assustadora (já desde o olhar dos avós para seus filhos prestes a tornarem-se pais). A idéia de um nascimento que destruiria a mãe por dentro  o pai e os demais filhos possíveis  apresentava-se como uma solução que somente deslocaria o mundo destruído de fora para dentro do útero, mantendo a criatividade morta e o trânsito das gerações no tempo, interrompido. O manejo clínico, sob esse aspecto, foi o de dar suporte à curiosidade sexual de R., bem como à sua agressividade com relação à fertilidade dos pais constituídos agora como um casal ativo. Finalmente, este trabalho reflete sobre o final desta análise, que representou o nascimento simbólico de R., cujos pais encontravam-se em condições de ocuparem seus lugares um em relação ao outro e ambos com relação ao filho.