A busca pela boa mãe: a amamentação como depositária das angústias no exercício da maternidade
Audrey Setton Lopes de Souza Denise de Sousa Feliciano |
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Resumo Através de um atendimento em intervenção psicanalítica pais-bebê, as autoras apresentam o caso de uma família na qual o sintoma de recusa de mamar em um dos seios desencadeia um processo de angústia materna que se expande para toda a família. A fantasia evocada por esta recusa desperta na mãe uma angústia de não poder representar-se como uma boa mãe para suas filhas. Os encontros revelam o conflito ante ao nascimento de uma segunda filha e as incertezas da mãe em sua capacidade de ser mãe das duas. A ambivalência se intensifica com a perspectiva da volta da mãe às suas atividades profissionais que a colocam frente a um questionamento massacrante entre mãe-boa e mãe-má, estado mental que evoca suas próprias vivências infantis com a própria mãe, com quem mantém uma relação de ressentimento e mágoa. À medida que essas vivências intrapsíquicas primordialmente maternas podem ser vivenciadas em sala de análise, na presença das duas filhas, do marido e das analistas, é possível perceber uma gradativa reconfiguração na dinâmica familiar e do casal parental, a partir da elucidação das fantasias persecutórias de ambos e do oferecimento de um espaço de compreensão e continência para as angústias familiares. O lugar ocupado pelas filhas, incluindo a atitude de recusa de um dos seios pela filha mais nova pareceu ser fruto de um processo de identificação com essas angústias que inclui as crianças na trama familiar originalmente arcaica, mas que se reatualiza colocando em risco as relações atuais.
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