31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Algumas intervenções muito simples para contextos escolares bastante precários

Daniel Rodrigues Lirio
Psicanalista, Mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo, membro da equipe de saúde mental do CAPS Cidade Ademar, professor do COGEAE – PUC-SP e Uniban. Autor de diversos artigos e do livro: Suspensão Corporal; novas facetas da alteridade na cultura contemporânea.

Resumo

Este trabalho decorre da experiência de matriciamento em UBS, a partir do trabalho em um CAPS adulto na região sul de São Paulo, em área de alta vulnerabilidade social. Parte da atuação na UBS é a composição de equipe multiprofissional, junto ao NASF e técnicos da UBS para participação na TEIA – reunião mensal de escolas, creches, conselho tutelar e serviços de cultura, lazer e esporte, enfim, todos os recursos que atendem crianças de um determinado território.

Nesses encontros, surgem com veemência as queixas das escola em relação às crianças que não seguem os padrões determinados, não cumprem os combinados e transbordam de sexualidade ou agressividade, atrapalhando bastante o cotidiano escolar. Nessas escolas, observa-se uma equipe heterogênea, em que muitos técnicos são despreparados, sobrecarregados, descontentes com o trabalho e prontos a encaixar algum rótulo psiquiátrico nas crianças, sendo o mais comum o TDAH. Nas famílias dessas crianças, encontra-se, com frequência, histórico de abandono, alcoolismo, criminalidade, violência e baixa escolaridade. Com pouco investimento no trabalho junto com essas famílias, é comum que o maior pedido das escolas seja o encaminhamento para psicoterapia individual ou atendimento psiquiátrico. Esses pedidos geram uma primeira tensão na reunião da TEIA, uma vez que a) Não há quadros técnicos suficiente nas unidades de saúde para o atendimento individualizado de toda a demanda; b) A função da equipe multiprofissional de apoio não é o atendimento individualizado dos casos, mas o fomento e apoio dos profissionais das escolas e dos postos de saúde, para que se apropriem e manejem os casos em questão.

Coloca-se portanto, aos profissionais de apoio, o desafio de intervir em situações bastante complexas, cuja precariedade abrange tanto as escolas como as famílias, em encontros breves – cada reunião demora em torno de 2 horas – com profissionais frequentemente despreparados quanto ao entendimento de questões básicas do desenvolvimento infantil ou da importância da dinâmica familiar e escolar para o aprendizado e convívio social.

Enfim, neste trabalho pretende-se, a partir das queixas das escolas, apresentar algumas intervenções simples que buscam reordenar transferencialmente a equipe, para que esta supere posicionamentos cronificados, possibilitando a circulação de novos discursos e constituindo um ambiente em que seja possível encontrar uma forma singular de lidar com cada criança.


Palavras-chave: Escola – Transferência – Vulnerabilidade Social – Matriciamento.