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Trabalhos

E o pai o que tem a ver com isso?

Ana Carolina Afonso Lima Dias
Psicóloga, Especialista em Psicopatologia e Saúde Pública. Formação em distúrbios da linguagem e psicanálise. Supervisora clínica. Membro da equipe técnica do CAPS infantil de Parelheiros.

Resumo

Neste trabalho apresento as inquietações que comparecem no ofício da clínica da infância, especificamente de crianças que apresentam alguns impasses no desenvolvimento, entrelaçando como se configuram as relações parentais destacando a figura paterna. Delineando o que se mostra peculiar neste cenário das psicopatologias precoces, o universo infantil às avessas. Às avessas, pois é preciso construir o infantil ali onde aparece o puro ato, o corpo concreto sem extensão simbólica.
Narro vinhetas clínicas do atendimento de crianças em que, de modos diferentes a figura paterna vacila entre a presença/ausência e sua função na estruturação do psiquismo.
As crianças retratadas apresentam funcionamento autístico onde a primazia oral apresenta-se e o supreendente enigmático comparece no modo como a oralidade se revela, seja na voracidade ou na indiscriminação oral. Estas questões revelam o desejo da analista em compreender o que opera nestas crianças, que diante da oferta de bolachas, pipocas e doces não conseguem parar de comer ou recusam estas guloseimas e se fartam lambendo um sabonete.
Após a ilustração das vicissitudes dos distúrbios da oralidade nos casos clínicos expõem-se os caminhos do desenvolvimento infantil assegurando a preponderância das figuras de referências no direcionamento da criança, pois é a partir destas relações que se alicerçam as bases do psiquismo infantil.
Ao pensar estas questões a construção do sujeito psíquico toma espaço. O que é possível fazer quando se têm a frente um sujeito que ainda não se constituiu não portando imagem corporal e em consequência não se configurando como um corpo psíquico, ficando apenas no registro da necessidade e não constitui demanda, não se oferece ao outro? O que pode fazer um analista?
O analista, nestes casos aparece sob a senda de um lugar interrogado, da falta, instaurando questões tais como: a transferência, como ela se constrói e quais os manejos que se lança mão nestes casos. Estes tensionamentos perpassam o cotidiano desta clínica onde quer que ela ocorra, seja no consultório ou nas instituições.
Afinal o pai o que tem a ver com isso? E quais os efeitos de um pai que não tem nada a ver com a constituição psíquica de um filho?
Este trabalho apresenta elementos da monografia apresentada no curso de especialização em Psicopatologia e Saúde Pública para obtenção do título de Especialista.

Palavras-chave: Autismo, Clínica, Psicanálise, Infância.