sedes
Trabalhos

A construção do caso clínico.

Andrea Gabriela Ferrari
Psicóloga; Psicanalista; Professora do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia da UFRGS; Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica Interdisciplinar da Infância da Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS e do NEPEIA (Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Infância e Adolescência - CNPq).

Giovana de Castro Cavalcante Serafini
Psicóloga; Psicanalista; Especialista em Atendimento Clínico- ênfase em Psicanálise pela Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS; Mestre em Educação pela UFRGS; Membro do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica Interdisciplinar da Infância da CAP/UFRGS. Autora responsável pela apresentação do trabalho.

Resumo

Neste trabalho, apresentamos uma reflexão acerca da escrita de caso clínico de crianças e sua relação com a formação de terapeutas. Essas questões surgiram no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica Interdisciplinar da Infância desenvolvido na Clínica de Atendimento Psicológico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Muitas vezes, deparávamo-nos com um caso que já tinha estado em atendimento na Clínica, mas, por diversos motivos, tinha sido interrompido ou finalizado. Ao resgatar o relato do caso feito pelo terapeuta responsável pelo atendimento, surgiam narrativas tão extensas que era impossível identificar um traço particular, ou, por outro lado, extremamente sucintas, o que nos impedia de fazer qualquer leitura sobre sua especificidade. Acrescente-se a essa particularidade institucional a própria dificuldade com o ato de escrever, a escrita em si, com o escrever tudo ou, então, o escrever nada. Apoiamo-nos na distinção proposta por Figueiredo (2004) entre o relato clínico e o caso clínico. Propomos uma investigação de como a noção de construção do caso, derivada da teoria psicanalítica, apresenta-se como dispositivo para refletir sobre a prática clínica. Para tal, analisaremos os efeitos da construção de uma ficha de registro da história do tratamento da criança na referida instituição. Para a organização desses registros, foram levadas em consideração três temáticas norteadoras: o discurso parental; o que a criança capturou do que lhe foi oferecido; e a sua inserção no laço social e na escola (Bernardino, 2010). Propomos que cada escrita do caso é singular, e a leitura, ou a interpretação, oferece-se como criação ou construção de novos sentidos. Assim, é de fundamental importância, por causa da nossa característica de clínica-escola, a necessidade de nortear a escrita do caso, pois, quando a criança continua na instituição, acompanhada por outro terapeuta, é preciso resgatar o relato do caso clínico para dar sustentação ao reinício do tratamento. Além disso, sendo a Clínica também um lugar de formação de novos terapeutas, é importante acentuar a transmissão, não só do caso, mas também da prática clínica.


Palavras-chave: construção do caso; traço do caso; clínica psicanalítica com crianças; clínica em instituições.