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Trabalhos

Reunião de pais na Educação Infantil: uma proposta de escuta e de intervenção precoce pautadas na ética da psican álise

Cristina Keiko Inafuku de Merletti
Psicóloga. Psicanalista. Doutoranda no Instituto de Psicologia da USP/Departamento
de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Membro da equipe clínica do
Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica SP.

Resumo

A família desempenha um papel fundamental na constituição psíquica e no
desenvolvimento das crianças, por outro lado, é cada vez maior a sua necessidade de
contar com a ajuda de instituições cuidadoras e educativas. As creches e as escolas de
Educação Infantil representam hoje uma realidade e uma necessidade para a maioria
das famílias modernas e urbanas. Kupfer (2012) ressalta que, dessa maneira, não
podemos negligenciar a responsabilidade atual da creche no desenvolvimento físico e
mental das crianças. Embora constatemos que, no mundo contemporâneo, a
constituição do sujeito, a partir do exercício das funções materna e paterna, pode não
estar mais exclusivamente nas mãos da família, traremos desdobramentos destas
proposições apontando que as funções parentais não devam ser excludentes nem
substituíveis. A partir desta perspectiva, apresentaremos o relato de uma experiência
de campo advinda da pesquisa denominada Metodologia IRDI – uma intervenção com
educadores de creche a partir da psicanálise, na qual a psicanalista pesquisadora
analisará a sua participação e os seus efeitos nas reuniões trimestrais das educadoras
com as famílias. Foram necessários manejos e delicadeza na abordagem dos pais em
relação às dificuldades precocemente apresentadas em seus filhos na creches pois,
ainda que a precocidade da detecção e de uma intervenção adequada junto à criança
pequena tenha sua eficácia potencializada, ela aumenta também o risco de serem
capturados por um discurso patologizante e pelos estigmas em torno de algumas
sintomatologias, como no caso do autismo. O imaginário parental é fomentado em
torno da culpa, gerando temor, submissão ou rivalidade em relação aos profissionais
cuidadores de seu filho, acirrando resistências e provocando, em muitos casos, o seu
afastamento do trabalho conjunto com a criança. Apresentaremos uma intervenção
discursiva no campo educacional visando a promoção de saúde mental na primeira
infância, considerando a família um elemento fundamental para esse processo, ainda
que seus filhos permaneçam por considerável tempo na creche. Configurou-se um
dispositivo de acolhida e de escuta pautadas na ética psicanalítica, reunindo famílias e
educadoras em torno de um trabalho de parceria e de uma co-responsabilização social
simbólica pelos cuidados, pela educação e pela função desejante dos adultos em
relação aos pequeninos - sujeitos em constituição.

Palavras-chave: Educação Infantil; família; intervenção precoce; autismo.