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Trabalhos

Transferência e transicionalidade na clínica com bebês

Débora de Mello
Psicóloga com Especialização em Psicoterapias da Infância pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Cursando terceiro ano do curso Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

Resumo

Este trabalho pretende narrar a história de um setting que foi mudando de endereço numa tentativa de dar conta da tarefa de construir um lar na mente de pais de primeira viagem e de sua bebê.
A análise da mãe iniciou-se como a maioria das análises, no divã. No entanto, aos 82 dias de vida da bebê, após uma crise de intensa angústia da mãe diagnosticada pela psiquiatria como depressão pós-parto tornou-se urgente uma decisão técnica. Manter o atendimento da mãe ou decidir por uma alteração na rota, isto é, priorizar o trabalho de intervenção precoce no vínculo pais-bebê.

Apesar do conhecimento psicanalítico sobre o primeiro ano de vida ter avançado muito desde as investigações de René Spitz iniciadas em 1935, a prática profissional do psicanalista frente a essa demanda ainda é pouco reconhecida.  É necessário posicionar-se a esse respeito. Esse relato clínico espera contribuir com o pensamento de que cada vez mais a psicanálise deve se ocupar da construção da parentalidade. A importante tarefa de libidinizar os pais no exercício de suas funções parentais mostrou-se absolutamente necessária.

Foi assim que diante das demandas clínicas a intuição/conhecimento agiu como bússola e mudamos de endereço. O trabalho analítico então foi transferido do consultório para a casa da família. As sessões aconteciam na sala, mas também circularam entre o quarto da bebê, o quarto do casal, o banheiro, a cozinha e o quintal.

Houve ainda uma breve temporada virtual, de atendimentos por Skipe, devido a uma viagem dos pais durante dois meses. A alta freqüência semanal, - duas sessões com a mãe e a filha, e uma sessão com pai, a mãe e a bebê, - foi relevante para o desenvolvimento do trabalho e para as transformações ocorridas durante os nove meses em que o consultório esteve hospedado na casa da família. Não só a escuta analítica, mas principalmente a conduta analítica são elementos de debate nessa exposição.

À medida que um lar simbólico foi se constituindo, e os cômodos subjetivos de cada membro desse grupo familiar foram se delineando, mais o desejo de retomar o setting tradicional foi surgindo. 
O trabalho analítico ainda em andamento, agora está de volta ao divã, com a mãe.

Palavras-chave: Setting, Prática Clínica, Depressão Pós-Parto, Pais-Bebê.