Resumo
Este trabalho pretende narrar a história de um setting que foi mudando de endereço numa tentativa de dar conta da tarefa de construir um lar na mente de pais de primeira viagem e de sua bebê.
A análise da mãe iniciou-se como a maioria das análises, no divã. No entanto, aos 82 dias de vida da bebê, após uma crise de intensa angústia da mãe diagnosticada pela psiquiatria como depressão pós-parto tornou-se urgente uma decisão técnica. Manter o atendimento da mãe ou decidir por uma alteração na rota, isto é, priorizar o trabalho de intervenção precoce no vínculo pais-bebê.
Apesar do conhecimento psicanalítico sobre o primeiro ano de vida ter avançado muito desde as investigações de René Spitz iniciadas em 1935, a prática profissional do psicanalista frente a essa demanda ainda é pouco reconhecida. É necessário posicionar-se a esse respeito. Esse relato clínico espera contribuir com o pensamento de que cada vez mais a psicanálise deve se ocupar da construção da parentalidade. A importante tarefa de libidinizar os pais no exercício de suas funções parentais mostrou-se absolutamente necessária.
Foi assim que diante das demandas clínicas a intuição/conhecimento agiu como bússola e mudamos de endereço. O trabalho analítico então foi transferido do consultório para a casa da família. As sessões aconteciam na sala, mas também circularam entre o quarto da bebê, o quarto do casal, o banheiro, a cozinha e o quintal.
Houve ainda uma breve temporada virtual, de atendimentos por Skipe, devido a uma viagem dos pais durante dois meses. A alta freqüência semanal, - duas sessões com a mãe e a filha, e uma sessão com pai, a mãe e a bebê, - foi relevante para o desenvolvimento do trabalho e para as transformações ocorridas durante os nove meses em que o consultório esteve hospedado na casa da família. Não só a escuta analítica, mas principalmente a conduta analítica são elementos de debate nessa exposição.
À medida que um lar simbólico foi se constituindo, e os cômodos subjetivos de cada membro desse grupo familiar foram se delineando, mais o desejo de retomar o setting tradicional foi surgindo.
O trabalho analítico ainda em andamento, agora está de volta ao divã, com a mãe.
Palavras-chave: Setting, Prática Clínica, Depressão Pós-Parto, Pais-Bebê.
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