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Trabalhos

Encontros entre o lugar do pai e o lugar do analista na análise de uma criança.

Julia Eid
Psicóloga (PUC-SP); Psicanalista; Membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae; integrante do Grupo Acesso – Estudos, Intervenções e Pesquisa sobre adoção, da clínica psicológica do Instituto Sedes Sapientiae; Colaboradora e supervisora clínica do Ambulatório de Saúde Mental do Departamento de Pediatria Geral e Comunitária da EPM-UNIFESP.

Resumo

O objetivo deste trabalho é apontar, a partir de fragmentos clínicos da análise de uma criança de 9 anos, encontros entre o lugar do pai e o lugar do analista, propondo uma reflexão sobre as aberturas que esse posicionamento ético pode propiciar. Ao falar do lugar do pai, será privilegiada a função paterna ­– ato que marca a existência das diferenças e da incompletude – embora existam outras questões importantes referentes a esse lugar. Tomando a noção de incompletude como o motor do ser humano e como marca fundamental da ética psicanalítica, a autora compreende a ética da psicanálise e a ética do analista – ancorada por autores como Freud, Winnicott, Silvia Bleichmar, Luis Claudio Figueiredo – como a atitude de respeitar e reconhecer a alteridade, sustentar as diferenças, as assimetrias, os espaços vazios.
É apresentado o caso de uma criança que inicia seu processo de análise por apresentar diversas fobias e angústias intensas. Esta criança quee apresentava um grande sofrimento se defendia de angústias extremamente persecutórias agarrando-se ao seu narcisismo, às idealizações, conservando-se na ilusão de onipotência.
A partir de recortes clínicos, a autora busca evidenciar determinados lugares ocupados pela analista e seus efeitos nessa análise, defendendo a existência de um tempo particular, para cada paciente, para que determinadas intervenções possam ser realizadas – aponta que é preciso construir um terreno em que as palavras e atos do analista possam então pousar.

Ao final, conclui que não se pode falar em castração sem antes acolher as insuficiências. Considera que a renúncia à onipotência é menos ameaçadora na medida em que a presença do outro pode ser vivida com menor persecutoriedade. Neste sentido, aponta que foi preciso que esta criança encontrasse espaço em si mesma e no outro capazes de conter sua desorganização e insuficiências para que, podendo se abrir um pouco mais para o outro, pudesse diminuir suas exigências narcísicas e abrir mão da ilusão de onipotência. Para além disso, busca marcar que há um posicionamento inerente ao lugar do analista que é de, mesmo que em silêncio, marcar e defender a ética das diferenças e da alteridade.

Palavras-chave: Lugar do pai; lugar do analista; ética psicanalítica; narcisismo.