sedes
Trabalhos

Diversidade de gênero: desafios para a clínica psicanalítica

Izabela Dias Velludo Roman – Doutoranda em Estudos Psicanalíticos pela UFMG, Mestrre em Estudos Psicanalíticos pela mesma instituição, psicóloga e pesquisadora do Projeto CAVAS/UFMG e psicóloga clínica. Atuou como Analista de Políticas Públicas da Prefeitura de Belo Horizonte.
Alberto Luiz Rodrigues Timo – Doutorando em Estudos Psicanalíticos pela UFMG (Bolsista CAPES), Mestrre em Estudos Psicanalíticos pela mesma instituição.
Fábio Roberto Rodrigues Belo – Doutor em Estudos Literários (FALE – UFMG) e Professor Adjunto II, de Psicanálise, no Departamento de Psicologia, da UFMG.

Eixo temático proposto: Questões de gênero – Anatomia é destino?

Resumo

As questões relativas às identidades de gênero e suas implicações clínicas estiveram, por muito tempo, negligenciadas pela psicanálise e seus estudiosos. No entanto, quando esta temática ganha espaçonos espaços de discussão teórico-clínicas ainda aparece pautada nas concepções de gênero marcadas pelo binarismo masculino/feminino que tanto perpassou a obra freudiana e de seus sucessores. Como tentativa de superar esta postura, iremos apresentar algumas contribuições de Jean Laplanche sobre a problemática do gênero a fim de encontrar possíveis respostas para a seguinte questão: como os analistas da atualidade têm atendido seus pacientes diante do cenário de manifestações de gênero mais fluidas e diversificadas? Partindo da proposição de que os sexos – homem e mulher– convidam o sujeito a traduzir as manifestações de gênero como masculino e feminino, mas que estas traduções são apenas uma de muitas possibilidades e, portanto, são passíveis de reformulação, Laplanche irá defender a ideia de que a diferença anatômica é apresentada à criança – e não simplesmente percebida por ela, de maneira implicada com as questões sociais, culturais e políticas, portanto, inundada de designações do sexual do adulto. O gênero, então, funciona como uma organização possível para o pulsional e a psicanálise trabalhou, por muito tempo, com a ideia de que os gêneros masculino e feminino eram os únicos possíveis para traduzir passividade e atividade pulsionais.Nesse sentido, acreditamos que o uso dos termos masculino e feminino como têm sido empregados pela psicanálise reproduzem práticas discursivas e disciplinadoras dos corpos, o que produz uma patologização da diversidade dos gêneros e, consequentemente, uma dificuldade do analista em realizar uma prática clínica pautada em todo seu poder de matizar as construções de gênero marcadas pela repressão e pelo recalcamento. Nossa hipótese é a de que os analistas não estão preparados para lidar com a multiplicidade das traduções pulsionais possíveis, uma vez que foram formados com base em uma concepção binarista e pautada na diferença, e não na diversidade. Com o intuito de superar a marca do binarismo nas discussões acadêmicas e clínicas sobre a diversidade de gênero, propomos o uso do termo “relações libidinais dos corpos” como substituto do termo “gênero” além de uma necessária inclusão dessa discussão na formação dos analistas.


Palavras-chave: gênero, analista, diferença sexual, binarismo