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Trabalhos

O não dito em um caso de abuso sexual infantil:
dificuldades na comunicação entre pais e filho

Ana Paula Mucha: Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), graduada em Psicologia pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Marcela Lança de Andrade: Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), graduada em Psicologia pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Fernanda Kimie Tavares Mishima-Gomes: Doutora e Mestre em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP); Psicóloga do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).

Valéria Barbieri: Docente do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).

Eixo temático proposto: Sexualização da infância

Resumo

O abuso sexual infantil é uma forma de violência que pode causar na criança tristeza constante, ansiedade, sonolência, abatimento físico, comportamento sexualizado, medo, enurese ou encoprese, queixas somáticas, baixa autoestima e dificuldades em adaptar-se socialmente. Este trabalho pretende analisar um processo de triagem (composto de cinco sessões: entrevista inicial, sessão lúdica com a criança, sessão familiar e sessão devolutiva com a criança e com os pais, separadamente) de um menino de sete anos que sofreu abuso sexual quando tinha quatro anos. A queixa principal trazida pelos pais refere-se à agressividade da criança, especialmente no ambiente familiar, em que esta agride a mãe e a si mesma. O abuso não foi relatado como uma queixa, mas citado depois de muito tempo de entrevista, pelo pai, que demonstrou preocupação. Os pais deixaram claro que, desde a época em que ocorreu o abuso, este não é um assunto discutido na família. A agressividade na criança não foi expressa ao longo das sessões e pode ser entendida como uma estratégia encontrada para ser ouvida pelos pais. Nas sessões, percebeu-se que a criança tem um funcionamento psíquico bastante regredido. Demonstrou falta de iniciativa nas brincadeiras, dificuldades em se expor e em ser espontâneo. A mãe assume uma postura muito protetora e tenta adivinhar os desejos e necessidades do filho sem que ele precise verbalizá-las. O pai, por sua vez, demonstrou muita dificuldade em interagir com a família, em saber como suprir as necessidades do filho e auxiliá-lo no desenvolvimento de sua criatividade. Diante das dificuldades familiares, a opção menos angustiante é a de não falar sobre o abuso, pois os pais tentam proteger o filho e evitam frustrá-lo. Uma experiência tão negativa como esta, quando não pode ser compartilhada pela criança com seus familiares, dificulta sua elaboração e a possibilidade de transformar essa vivência menos dolorosa para a criança. Uma comunicação sincera entre pais e filhos se faz necessária para que as experiências dolorosas não se transformem em um impossibilitador da continuidade do desenvolvimento emocional da vítima. É necessária a psicoterapia para a família, de modo a minimizar as consequências do ocorrido, auxiliando a falar sobre o assunto e a ressignificar essa difícil experiência.

 


Palavras-chave: Abuso sexual infantil, psicanálise, família, comunicação.