sedes
Trabalhos

As pesquisas sexuais e a produção de saber no tratamento de um caso de debilidade

Ana Lícia Pegorelli
Psicóloga formada pela PUC-SP, psicanalista, acompanhante terapêutica. Membro da equipe da Trapézio – Grupo de Apoio à Escolarização (2009-2011).

Daniel Amiro Basilio Gonçalves
Psicólogo formado pela PUC-SP, psicanalista, acompanhante terapêutico. Especiliazação no curso Bases Clínicas para o Atendimento em Saúde Mental da Infância e Adolescência pelo CRIA-UNIFESP, psicólogo do CAPS Infantil Sé (2008-2011).

Fernanda Lacanna
Psicóloga formada pela PUC-SP, psicanalista, acompanhante terapêutica. Aprimoramento clínico pelo Espaço Palavra – tratamento a crianças e jovens com psicopatologias graves pela Clínica Ana Maria Poppovic / PUC-SP, membro da pesquisa “Detecção precoce de psicopatologias graves” coordenada pela Dra. Silvana Rabello, PUC-SP (2008-2012).

Izabel Abreu Kisil
Psicóloga formada pela PUC-SP, psicanalista, acompanhante terapêutica. Especialização em tratamento e escolarização de crianças com transtornos globais do desenvolvimento pela Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida IP-USP, mestrado em psicologia e educação pela FEUSP.

Resumo

A proposta de trabalho do Grupo de Invenção e Pesquisa (GIP) é a oferta de um espaço de tratamento para jovens que apresentam graves sofrimentos psíquicos e, consequentemente, modos particulares de se relacionar com o outro, com a linguagem e com o conhecimento além de uma importante dificuldade de estar no laço social. Diferente de um espaço educativo, a proposta é de um grupo que dê margem aos interesses particulares de cada um. Não se trata, portanto, de um grupo homogêneo no qual todos se debruçam sobre uma mesma atividade já proposta de antemão pelos coordenadores, mas da oferta de espaço e de tempo para que cada um possa desdobrar seus interesses em uma pesquisa. Este grupo se estabelece como um espaço de convivência, onde cada um, com seus interesses particulares, pode criar, inventar e construir conhecimento e saber a sua maneira. Profissionais orientados pela ética da psicanálise são os parceiros de trabalho destes jovens e partir da escuta, os membros da equipe se oferecem como assistentes de pesquisa e mediadores para as relações entre os garotos. Nosso objetivo neste trabalho é refletir sobre o caso de Peter, um jovem numa posição débil. Como é característico dessa posição subjetiva, quando convocado a dizer do que sabe, Peter recua e se dirige ao outro como aquele que sabe sobre ele. Diante da pergunta: “Peter, quando é seu aniversário?”, ainda que saiba a resposta, ele rapidamente diz: “O Daniel (um dos profissionais da equipe) sabe”. Na condição de objeto diante do saber do Outro, Peter não consegue fazer valer suas vontades. É como se ele se esforçasse para não existir. Durante o trabalho, Peter vai construindo um lugar no grupo e a partir do desenho e da pintura começa a falar de si. Se inaugura um fazer relacionado a construção da imagem corporal. Nesse processo se escancaram suas perguntas sobre as diferenças sexuais. Aos poucos, Peter vai transformando sua curiosidade em uma pesquisa o que tem efeitos na sua relação com o conhecimento e com o saber. Dentro do eixo temático - Ressignificação da sexualidade na adolescência – caminhos e impasses – consideramos relevante apresentar o percurso e os efeitos deste tratamento onde as questões sobre sexualidade abrem a possibilidade deste sujeito se interessar pelo mundo e construir um conhecimento próprio que lhe autoriza a saber de si. Mais recentemente, quando um colega pergunta: “Quando é seu aniversário?”, ele responde: “ 29 de abril”.


Palavras-chave: Debilidade, Saber, Pesquisa, Grupo.