Resumo

Esta pesquisa - realizada no pós-doutorado em Psicologia Clínica, no Núcleo de Investigações em Psicanálise da USP, dentro do eixo temático da Psicanálise Vincular - tem como objetivo investigar as mudanças e as permanências nos conceitos de família, feminilidade e masculinidade no Brasil contemporâneo, segundo a percepção de crianças. Partindo do pressuposto de que a constituição da subjetividade se dá mediante uma complexa interação de mecanismos intrapsíquicos e intersubjetivos (elaborados e constituídos através dos vínculos), buscamos compreender e situar as consequências da mudança do lugar social da mulher, do desenlace entre sexo e reprodução, do surgimento do casal de iguais sustentado pelos ideais do amor romântico, da reconfiguração e ampliação do conceito de família e da crise das funções parentais sobre as narrativas e produções de meninos e meninas, entre cinco e seis anos de idade, residentes na cidade de São Paulo e estudantes de escolas pertencentes à rede pública e à rede privada. As crianças foram convidadas a participar de uma atividade lúdica (no formato de rodas de conversa) sobre os diferentes arranjos familiares e sobre homens e mulheres exercendo papéis considerados tradicionalmente masculinos ou femininos e também papéis tidos como “novos”, não tradicionais. A partir das produções e narrativas infantis, exploramos como essas crianças (pertencentes a diferentes contextos) elaboram e relacionam o conceito e a vivência que têm de família, assim como os aspectos, as atribuições e os comportamentos que aproximam ou diferenciam homens e mulheres, masculinidades e feminilidades. A importância da realização de uma investigação sobre as percepções infantis acerca das relações de gênero reside no fato de que as crianças não apenas assimilam os elementos de sua cultura, mas são ativas produtoras de novos sentidos para as questões contemporâneas.

Palavras-chave: família, crianças, percepção, gênero.