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Trabalhos

Desdobramentos da cultura do consumo na constituição subjetiva: o sujeito entre o ser e o ter.

Helena Julio Rizzi: Psicóloga pela USP (2009); aprimoramento em Psicologia Hospitalar pelo Instituto da Criança do HC-FMUSP (2011); psicóloga clínica em consultório particular e no Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis; psicóloga no Movimento Comunitário Estrela Nova.
Victor Oliveira de Carvalho: Psicólogo pela PUC-SP (2012); formação especializada em intervenções clínicas com famílias no CEARAS-FMUSP (2015); psicólogo clínico em consultório particular e no Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis; e acompanhante terapêutico.

Eixo temático: Complexo de Édipo – Como pensá-lo hoje?

Resumo

Vinícius foi encaminhado pelo pediatra para avaliação psicológica no Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis, a pedido de sua mãe e da escola, com queixa principal de enurese e dificuldade de aprendizagem. Durante a avaliação, realizada numa modalidade intitulada “grupo de acolhimento”, a criança a todo o momento procura mostrar aos outros (demais crianças e psicólogo) o que faz, o que sabe e o que tem e, ao passo que evidencia sua angustia, parece também buscar alívio e satisfação. O que tal modo de estabelecimento de laço com o outro revela a respeito do funcionamento – sintoma e sofrimento – desta criança?
Tendo como fio condutor a discussão do caso acima, a partir da articulação teórico-clínica amparada pela psicanálise, buscamos estabelecer relações entre a constituição subjetiva e aspectos contemporâneos associados à cultura do consumo.
Partimos do Complexo de Édipo como operador que instaura a falta para o sujeito, isto é, que marca o neurótico com o imperativo da castração. A maneira como cada sujeito posiciona-se diante desta constitui o que há de mais singular no seu modo de estabelecer relações. Para ele, a possibilidade de lidar com a falta que o atravessa está, então, marcada pela produção de fantasias e pelo estabelecimento de identificações.
Como considerar as especificidades deste aspecto constitutivo na contemporaneidade? A leitura de autores como Maria Rita Kehl e Contardo Calligaris pode contribuir para essa reflexão, pois estes apontam que a cultura do consumo, assim como a circulação dos prazeres e bens por esta oferecidos, tem desdobramentos significativos no funcionamento do sujeito. Na medida em que o imperativo de posse dos prazeres apresenta a possibilidade de tamponar a falta estrutural, o sujeito está diante de uma fantasia de que seria possível defender-se completamente do desamparo e das evidências da castração.
Propomos nesse trabalho refletir a respeito de como a cultura do consumo incide sobre a forma como o sujeito, neste caso, Vinicius, lida com falta. Ponderamos que o modo como se posiciona no laço carrega tanto aspectos singulares de sua história e dos caminhos percorridos por sua libido, como também pelas marcas culturais do contexto no qual está inserido, a saber, marcado pela substituição do ser pelo ter.


Palavras-chave: Psicanálise, Infância, Complexo de Édipo, Cultura do consumo.