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Trabalhos

Abuso sexual e suicídio: a luta pela preservação da identidade.

Izabela Dias Velludo Roman: Doutoranda em Estudos Psicanalíticos pela UFMG, Mestre em Estudos Psicanalíticos pela mesma instituição, psicóloga e pesquisadora do Projeto CAVAS/UFMG e psicóloga clínica. Atuou como Analista de Políticas Públicas da Prefeitura de Belo Horizonte.
Laura Facury Moreira: Especialista em Teoria Psicanalítica pela UFMG, psicóloga e pesquisadora do Projeto CAVAS/UFMG e psicóloga clínica. Atuou como psicóloga hospitalar em hospital público de Belo Horizonte.

Eixo temático: Sexualização da infância - Os abusos infantis

Resumo

A violência sexual constitui um trauma capaz de desorganizar psiquicamente o sujeito e gerar impactos disruptivos em sua constituição psíquica. O acompanhamento de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual realizado no Projeto CAVAS/UFMG permite a observação dos mais variados efeitos mortíferos deste tipo de traumatismo. Considerando a importância dessa temática, principalmente, por se tratar de um problema de saúde pública no Brasil, o presente trabalho pretende lançar luz sobre a relação possível entre o abuso sexual infantojuvenil e o suicídio. De acordo com os dados levantados por uma pesquisa realizada pela Childhood Brasil em oito estados brasileiros sobre os fatores de risco e vulnerabilidade em vítimas de exploração sexual, cerca de 60,9% das crianças e adolescentes já pensaram em suicídio, sendo que 58,1% realmente tentaram se matar. Desses, 20% o fizeram por ter sofrido violência sexual. A partir da apresentação e da análise de um caso clínico acompanhado por uma das autoras, iremos percorrer o tema do suicídio nas contribuições de Freud e Laplanche partindo da premissa de que, em algumas ocasiões, a tentativa de autoextermínio acontece a serviço da manutenção da vida, da permanência e da preservação psíquica, em detrimento da consideração mais comum de que o suicídio funciona apenas como uma manifestação da pulsão de morte. As diversas tentativas de suicídio perpetradas por uma pré-adolescente vítima de abuso sexual nos permite concordar com Laplanche ao afirmar que o autoextermínio funciona como uma tentativa de conservação de uma imagem de si mesmo, uma imagem do ego, um ideal. Para corroborar esta ideia, iremos apresentar a proposição de Lichtenstein sobre a primazia da identidade em relação à conservação da vida. Para o autor, o narcisismo não possui compromisso com a vida, mas sim com a constituição e a manutenção da identidade que está intimamente ligada à sexualidade e ao inconsciente.


Palavras-chave: abuso sexual, suicídio, identidade, adolescência.