sedes
Trabalhos

O trauma no abuso sexual infantil

Margarete dos Santos Marques: Psicóloga clínica, mestre me psicologia social pela PUC-SP - núcleo de pesquisa psicanálise e sociedade (NUPS). Tema da dissertação: Abuso sexual infantil. Especialista em Gestão de Serviços Públicos de Saúde pela UNIFESP. Apoiadora em saúde em São Bernardo do Campo e consultora em projetos sociais.

Eixo temático: Sexualização na infância.

Resumo

O objetivo deste trabalho é refletir, a partir de fragmentos clínicos de um caso de abuso sexual infantil, sobre a questão do trauma, conceito elaborado por Freud que se refere a um acontecimento da vida do sujeito caracterizado por sua intensidade, pela incapacidade do sujeito de responder a ele adequadamente, o transtorno e os efeitos patogênicos duradouros que provoca na sua organização psíquica. O caso clínico é de uma menina de 8 anos que foi abusada sexualmente e de seu irmão de 7 anos que presenciou a cena do abuso. Ambos foram levados para um serviço de acolhimento (Abrigo) e iniciaram atendimento psicológico em seguida. Logo se percebeu que a menina não apresentava nenhum trauma a respeito do abuso sofrido. Entretanto seu irmão estava visivelmente em sofrimento. Em principio apresentou episódios de agressividade e isolamento e posteriormente comportamentos transgressivos. No texto Uma criança é espancada de 1919, Freud se interroga se a cena de espancamento na infância pode ser percebida como sádico ou como masoquista pelo adulto, diferencia as fases da fantasia na constituição psíquica do menino e da menina. No caso em discussão, o menino presencia a cena do abuso da irmã. Seus sintomas primeiramente se consolidam em atitudes de isolamento e agressividade e posteriormente em atitudes perversas. Entretanto no decorrer de sua analise, seus atos de perversidade vão se deslocando. Acontece o desaparecimento gradativo dos primeiros sintomas chegado ao apaziguamento do trauma sofrido. Assim desnuda-se a possibilidade do estabelecimento de relações mais amistosas. Considerando que em termos econômicos, o trauma caracteriza-se por um afluxo excessivo de excitações, em relação à tolerância do sujeito e a sua capacidade de controlar e elaborar psiquicamente tais excitações é curioso neste fragmento clínico que a menina não apresente nenhuma “excitação” em relação ao abuso sofrido. Seus recursos psíquicos foram suficientes para mantê-la bem, o que reforça a tese freudiana de que o trauma é algo da ordem da fantasia de cada sujeito.


Palavras-chave: Trauma, abuso sexual, infância, psicanálise.