Eixo temático: Sexualização da infância - Os abusos infantis

Resumo

Este trabalho visa pensar nos desdobramentos da subjetividade em casos de abuso sexual infantil e na interferência do trauma ao longo do desenvolvimento psíquico da criança. Será apresentado um recorte de uma análise de uma menina acompanhada em um serviço de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. O acompanhamento dos desenhos da paciente nos permite observar o processo de elaboração que ela fez e localizar alguns dos efeitos reverberativos do trauma. Neste caso clínico, acredita-se que, assim como em outros pacientes que passaram por uma situação muito traumática, algo em seu psiquismo se alterou. Durante a infância, quando os toques do pai extrapolaram sua função de cuidado e se concretizaram em invasões abusivas, algo na criança se destroçou. Mesmo depois de cessados os episódios de abuso, algo reverbera, persiste e aparece nas nuances de seus desenhos. As imagens mostram os mecanismos de defesa utilizados por ela para lidar com seu conflito psíquico. O traumatismo provocou a clivagem, expressa em divisões e duplicidades, e a clivagem, para se sustentar, provocou a Verleugnung, a negação. Após expressar suas respostas psíquicas, a menina apontou em sua análise para uma tentativa de integração, que possibilitou uma gradativa condensação de elementos que chegaram até ao perdão ao pai. Tal caso mostra como desenhos elaborados durante sessões de análise podem conter elementos que nos remetam à situação traumática, que nos permitem identificar algumas de suas conseqüências e, a partir disso, pensar estratégias para trabalhar em prol da elaboração dessas questões.

Palavras-chave: Abuso sexual; Trauma; Clivagem; Verleugnung.