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Trabalhos

Representações sociais da maternidade e função parental: das sociedades estáveis aos blogs maternos

Silvia Paula Leite Bicudo: Psicóloga e psicanalista, possui formação em psicologia perinatal pelo Instituto Gerar. Faz parte da equipe do Ninguém Cresce Sozinho.
Patrícia L. Paione Grinfeld:  Psicóloga clínica, idealizadora e co-fundadora do Ninguém Cresce Sozinho.
Roberta Alencar: Psicóloga e psicanalista. Faz parte da equipe do Ninguém Cresce Sozinho. Foi coordenadora do Programa Palavra de Bebê do Instituto Fazendo História e é co-autora do livro “Entre o singular e o coletivo - O acolhimento de bebês em abrigos”.

Eixo temático: História e Cultura

Resumo

O surgimento dos blogs como ferramenta de comunicação a partir dos anos 90 e mais precisamente dos blogs maternos na década seguinte, inaugura de modo inédito o debate público sobre as representações da maternidade dentro de nossa sociedade através da voz das mulheres-mães confrontando, assim, a imagem da mãe perfeita presente no imaginário social. No entanto, embora a visão romantizada da maternidade venha sendo contestada em alguns sentidos, observamos que em muitas comunidades maternas virtuais também existe um certo ideal do que é ser “boa mãe”, o que acaba por transformar esses espaços num palco de julgamento e exclusão.
Neste contexto, partindo da concepção de que a construção da função parental implica necessariamente na articulação entre psiquismo e laço social, faz-se necessária uma revisão histórica das diferentes representações que a maternidade teve ao longo dos séculos. Vemos que nas sociedades estáveis, as mais arcaicas de que temos notícias,  a experiência da maternidade era vivenciada em grupo; todos os integrantes da família, inclusive os filhos pequenos, participavam dos cuidados da gestante, assistiam ao parto que era realizado em casa, zelavam e conviviam com o bebê desde o seu nascimento.  Em contrapartida, nos dias de hoje, após um longo percurso de transformações, ao invés do aprendizado vir da observação e da experiência grupal, ele se dá de maneira mais solitária e formal, através de especialistas que ensinam como proceder, seja através de consultas, livros, artigos ou palestras. Esse saber vindo do outro pode alienar a experiência subjetiva da mulher e assim ser vivido de maneira desastrosa se recebido como um imperativo que a desautoriza em sua função parental.
Diante da breve descrição deste panorama, como pensar o crescimento e a função dos espaços virtuais no campo da parentalidade? O presente trabalho visa levantar hipóteses acerca das possíveis relações que vêm sendo estabelecidas entre a construção da parentalidade e o uso de blogs e outras comunidades virtuais pelas mães. Atráves dessa pesquisa buscamos compreender os efeitos e impactos que esta articulação pode produzir na própria função parental e, por sua vez, na relação mãe-bebê, bem como refletir a respeito do nosso lugar, enquanto psicanalistas, neste novo cenário.  


Palavras-chave: blogs maternos, função parental, representação social, maternidade