Autocrítica

Rosane Rodrigues

 

 

Era uma vez um psicodramatista típico, que andava por uma estrada e viu um analista igualmente típico vindo na direção dele.

Como sabia que era um analista típico? Fácil: cabeça para frente, fora da linha da coluna vertebral (de quem se guia primordialmente pelo mental) e uma concha no peito onde abriga as angústias dos clientes e, portanto uma cifose (curvatura anômala, de convexidade posterior da espinha dorsal) que lembra uma mãe na fase de amamentação.

Aí o leitor poderia pensar: como será que o analista vê ou não vê que é um psicodramatista? Esta é uma resposta possível apenas se trocarmos de papel. Por enquanto vou me manter no papel original, identificada com meu assunto. Se fizerem questão desta inversão posso fazê-la em outra ocasião. Escrevam e sugiram como ela se daria.

Aí este psicodramatista típico fala muito e gesticula muito e o psicanalista fica um pouco sem paciência de ouvi-lo e segue, gentilmente, seu caminho. Diz apenas: parece que você queria dizer algo...

E aí psicodramatista? Quando é que vamos parar de confrontar com colegas psicanalistas ou psicodramatistas e vamos gesticular menos e aprender a nos expressarmos melhor? Quando vamos articular melhor nossas práticas com a teoria? Usarmos nossa informalidade e grande imaginação menos para interromper nossos colegas num evento psicodramático, porque temos algo para dizer e pensar mais no que vamos dizer e aí sim usarmos nossa liberdade e ousadia para transformar e criar disrupções construtivas e co-construídas?

 

Junho 2007

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Rosane Rodrigues
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