Brincar de pensar

Anna Maria Knobel

Ao me aquecer para escrever uma coluna para este Site , fui buscar inspiração em uma cronista que me toca particularmente. A complexidade e inteligência com que apresenta seus estados de alma ao leitor são maravilhosas. Falo de Clarice Lispector que publicou em agosto de 1967 uma crônica que tem exatamente o nome que “roubo” para esta coluna.

Aparecem aqui dois mecanismos psíquicos fundamentais ao ser humano: a busca de um ideal e o agir antropofágico. Por meio deles me aproprio do mundo, transformo a mim mesma e crio uma certa realidade cultural.

Quando me refiro a um ideal, quero dizer que não me comparo a ela, me inspiro nela, em seu ato de escrever de forma às vezes dilacerante, em suas pequenas crônicas que percorrem com sensibilidade suas dificuldades, seus limites, sua curiosidade, seus êxtases e prazeres com pequenos elementos do cotidiano que ela magistralmente ilumina.

Quando falo em antropofagia, penso no que tomo dela, no que me identifico, no que me misturo e imito: o olhar curioso que confere novos sentidos a cenas comuns.

Assim é a vida quando é boa, um re-criar contínuo do Eu, do nós, do mundo. Ao escrever para este Site de psicodrama, posso ser fiel a mim mesma, me arremessar em direção aos sentidos lúdicos do pensar. Ao me deixar levar pela escrita ao invés de descrever estratégias, métodos ou práticas psicodramáticas, procuro mostrar a melhor das minhas crenças: pensar é divertido, gostoso e, além do mais, no dizer poético de Clarice: “Às vezes começa-se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas frutífero.” ( Lispector , C. Aprendendo a viver . Rio de Janeiro. Rocco, 2004, p. 48-49).

Agradeço à Silvia Petrilli o convite e a você, leitor, o interesse em me acompanhar.

 

Maio 2007

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Anna Maria Knobel
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