Categorias para facilitar as reflexões dos
fenômenos intra e interpsíquicos

Mariângela Wechsler

Caro leitor,
Como anunciei no último texto desta Coluna – agosto/08, vamos percorrer algumas categorias que podem facilitar nossas reflexões junto aos fenômenos relacionais que estamos inseridos.

A primeira delas, embora não tenha sido nomeada anteriormente, foi explicitada e fundamenta nosso vértice epistemológico, tratando-se da Constituição da Realidade. Quando reflito sobre algum fenômeno me pergunto, primeiramente, quais minhas crenças, teorias sobre como se constitui a realidade? O que é realidade? Parece-me que já enveredei por este caminho no texto anterior quando finalizo dizendo: “Dessa maneira, este processo infindável de organizações e re-organizações vai constituindo o Sujeito do conhecimento, ao mesmo tempo em que estrutura o mundo ao redor. Assim, respondo, orientado por esta Categoria, que não existe uma Realidade à priori, independente do sujeito, que ela é co-construída por agentes que habitam o fenômeno, dentro das possibilidades estruturais e funcionais de cada agente. Aqui quando aponto que não existe uma Realidade à priori estou me referindo ao paradoxo que se configura: existe a Realidade “fora do sujeito sim” mas, ao mesmo tempo ela não existe senão quando for constituída dentro dele – aliás é neste interjogo que se constitui o Sujeito do Conhecimento. Dessa maneira o acontecimento relacional que fundamenta a constituição das realidades intra e interpsíquicas se apóia na complementaridade de papéis, na interdependência e indissociabilidade entre sujeito e fenômeno, embora cada qual permaneça irredutível um em relação ao outro, constituindo, cores e formas singulares, mas desenhando um continuum...

Uma próxima Categoria, decorrente desta, que pode nos auxiliar nas nossas reflexões diz respeito à Estruturação do Conhecimento, a qual se faz, também, por meio do Acontecimento Relacional. Se a compreendermos numa perspectiva majorante, apontando para complexidades cada vez maiores, desenhamos uma espiral com formas mais complexas que contém as mais simples, quer da perspectiva estrutural, quer da perspectiva socioafetiva. Esta última apontando para padrões de relação que vai da Indiferenciação à Inversão de Papéis. Esta direção majorante da estruturação do conhecimento é estudada pela Teleologia, enquanto que, também, podemos apreender as regras que fundamentam esta direção, objeto de estudo da Teleonomia. Para darmos visibilidade, explicitarmos, estas regras que atuam num determinado momento do processo, precisamos averiguar as inter-relações implicadas dentro do Sistema estudado e compreendermos Sistema, sobretudo, tal qual Capra (1982 in Wechsler, 2006) nos apresenta: “o todo não é igual à soma das partes, é indivisível e dinâmico, compreendido pela interdependência das partes... é a Teia das Relações, Teia da Vida, em que se busca uma auto-organização“. Acrescentaria, uma auto-eco-organização, tal qual Morin (1990) nos ensina. Esta auto-eco-organização é explicitada pelo padrão que conecta as várias partes do Sistema e nossa co-responsabilidade, enquanto psicoterapeutas e diretores de psicodrama (latu sensu) no setting socioeducacional é podermos dar visibilidade aos padrões co-conscientes e co-inconscientes, num determinado momento do processo, os quais vão constituindo as regras explícitas e implícitas que alimentam e retro-alimentam o Sistema (intra e/ou inter) estudado. Estamos no campo da Sociometria e Sociodinâmica.  

Nós, psicodramatistas, sabemos que nossos métodos são potentes para tal demanda...  nossas reflexões talvez sejam ainda mais... estas categorias apresentadas apenas podem orientar estas reflexões. No próximo texto continuaremos a refletir sobre esta Categoria - Estruturação do Conhecimento - e a nomear outras Categorias....
Obrigada pelo acompanhamento!

 

Referências Bibliográficas:
MORIN, EDGAR. Ciência com Consciência. Publicações Europa-América, LDA, Portugal, 1990
WECHSLER, MARIÂNGELA PINTO DA FONSECA. Da des-construção à re-construção de sentidos e funções: recortes do processo de terapia familiar numa família com paciente identificado com funcionamento psicótico. In: Anais XV Congresso Brasileiro de Psicodrama, São Paulo, nov/2006. 30pgs.

____________________________________________________ Pesquisa e Psicodrama. Texto apresentado no XV Congresso Brasileiro de Psicodrama, São Paulo, 2006. Publicado na Revista Brasileira de Psicodrama, vol 15, no.2, 2007, pgs71-78.

 

 

Setembro 2008

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